O que a África precisa é de Liberdade - por Franklin Cudjoe
A união continental foi o princípio fundamental da Organização da Unidade Africana original, mas a O.U.A não tinha a menor chance de prosperar: os líderes africanos se recusam a encarar seus próprios problemas, bem como os de seus vizinhos e, enquanto isso, impedem africanos comuns de utilizarem a criatividade para ter acesso a um futuro melhor.
Ouvimos muito no último encontro da UA sobre grandes ideais de unidade – de ninguém menos que o presidente da Líbia Muammar Gaddafi – mas nada que tivesse alguma utilidade para os desastres do Zimbábue, de Darfur, da Somália, da Etiópia e da Eritréia.
Outros problemas, como a corrupção e as fraudes nas eleições, não apareceram nem mesmo na agenda – embora sejam elementos que, de fato, unam a África. Acima de tudo, não houve nem mesmo uma alusão aos direitos de propriedade, ao respeito às leis e à liberdade de mercado, coisas que permitiriam aos africanos reproduzir o crescimento de países asiáticos como a Tailândia, a Malásia e a Coréia do Sul – que eram tão pobres quanto nós à época da independência, nos anos 60.
Mesmo o registro de crescimento da África do Sul, das Ilhas Maurício e de Botswana é ignorado e visto como exceção, em vez de ser reconhecido como resultado direto de uma boa política econômica.
As posições da UA estão divididas entre os chamados gradualistas, que acreditam que antes de tudo os países deveriam construir suas próprias economias para depois integrá-las através de blocos regionais, e os radicais, que acreditam que uma autoridade supranacional permitiria de alguma forma à África competir internacionalmente.
Entretanto, nenhum dos lados está falando sobre o problema principal: a economia. Neste momento, os africanos não podem competir localmente ou regionalmente, muito menos internacionalmente: nós precisamos de liberdade econômica para os africanos se libertarem da pobreza, para se libertarem da servidão ao Estado.
O fantástico poder do comércio em mudar vidas tem sido demonstrado historicamente, e não somente no ocidente. Do alto de sua glória, muitos estados pré-coloniais africanos e impérios descobriram que o comércio era um caminho melhor para a prosperidade do que as conquistas.
O ouro era enviado de Wangara pelo Rio Níger através do deserto do Saara para Taghaza, a oeste do Saara, em troca de sal, e para o Egito, em troca de cerâmicas, tecidos e outros produtos asiáticos e europeus.
O antigo Império Ganês controlava a maioria do comércio de metais e marfim através do Saara. No Grande Zimbábue o ouro era trocado por porcelana chinesa e vidro.
Da Nigéria, couro e artigos em metal eram comercializados pelo oeste africano.
Hoje, a África perdeu esse comércio e muitas teorias da conspiração aparecem tentando explicar esse retrocesso.
Porém, a tática de culpar os outros esconde as verdadeiras culpadas: as barreiras internas e regionais que limitam o comércio, fazendo com que as tarifas dentro da África sejam muito superiores a outras aplicáveis em blocos externos.
Ainda há muitos políticos, burocratas e filantropos que justificam o emprego das tarifas, por estas fazerem contribuições essenciais à receita dos governos – o que significa que os escritórios do governo têm mais valor que os cidadãos e a economia.
Os opositores do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos ou do Acordo de Parceria Econômica com a União Européia dizem que os acordos permitiriam importações mais baratas, que provocariam o colapso da – já cambaleante – economia africana, mas ignoram os consumidores que se beneficiariam com as importações mais baratas ou os produtores que poderiam exportar regionalmente e internacionalmente: eles pensam somente em manter o poder do governo e proteger as indústrias.
Real conseqüência dessas políticas de antidesenvolvimento é manter o agricultor africano em nível de subsistência e conservar a nossa economia essencialmente agrária.
As tarifas nos países ricos caíram 84% nas últimas duas décadas, chegando a uma média de 3.9%. Nos países africanos as tarifas caíram somente 20% e nos deixaram com uma média, ainda absurda, de 17.7%. E, é claro, o protecionismo nos países mais pobres da África é quatro vezes maior que nos países mais ricos.
Assim, os problemas aqui não são os ideais remotos de unidade regional ou continental que possam, em um passe de mágica, libertar os africanos da pobreza: o problema é a falta de liberdade econômica prática e diária, que permitiria aos africanos se livrarem da pobreza a partir de políticas definidas e historicamente provadas.
A beleza das políticas econômicas bem sucedidas é que elas produzem resultados em um período curto de tempo, como na África do Sul e em Botswana, ao contrário das resoluções políticas, como a eternamente postergada união com o Egito, pregada por Khadafi.
Porém, líderes que conseguem falar em unidade enquanto ignoram a carnificina em Darfur e a tirania no Zimbábue podem facilmente ignorar a existência das barreiras econômicas locais.
A ideologia e as boas intenções têm deixado os africanos para trás enquanto centenas de milhões na Ásia estão tendo acesso a uma vida melhor. Nosso crescimento e prosperidade dependem do que já foi provado pelo senso comum e de rompermos as amarras econômicas que ainda nos mantêm escravos.
Tradução por Magno Karl
Tradução por Magno Karl
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