domingo, 17 de maio de 2015

HOMENS SAPOS E OS ARQUITETOS DA DESTRUIÇÃO




HOMENS SAPOS E OS ARQUITETOS DA DESTRUIÇÃO 

Há indivíduos que possuem uma característica em comum, achar que coisas desagradáveis nunca irão piorar a ponto de rasgar a sua bolha existencial ferindo sua efêmera zona de conforto. Chamarei tais indivíduos de "homens sapo". Esses acreditam que por mais que as coisas estejam ruins, elas nunca irão se tornar desesperadoras para as suas medíocres existências. Esquecem-se, os “sapos”, dos avisos incansáveis de imortais visionários da história como o primeiro ministro britânico Winston Churchill que declarou ao final da guerra que “uma cortina de ferro se abateu sobre o mundo”. Na ocasião, já deixava claro o fato de haver uma ameaça totalitária imperando sobre o orbe em devaneios megalomaníacos e psicopáticos.

A história é a maior inimiga da imprevisibilidade. Não é à toa que o inesquecível Winston Churchill foi pioneiro ao pregar no deserto contra os perigos do nazismo. No entanto, o flagelo de alienados foram representados pelo “homem sapo major”, o primeiro ministro, Neville Chamberlain, que prometeu paz a Europa, retornou do diálogo com o tirano sem ao menos possuir a previsibilidade das trevas que então já se anunciavam no horizonte. Sua falta de conhecimento da psicologia humana, sua estupidez e preguiça de vislumbrar os inúmeros exemplos históricos, conduziu a Europa, por omissão do típico “homem sapo”, aos horrores dos crimes contra a humanidade.

Homens Sapo sempre  pecam  pela omissão, excesso de otimismo e de imprevisibilidade então  estão a indicar  burocratas que se ajustam como parafusos perfeitos  da engrenagem do mal do estado , executando suas tarefas e se eximindo da humanidade e da culpa ao mal servir a comunidade .

A banalização do mal de Hanna Arendt é constatada na configuração de um estado totalitário. De forma gradual e sistemática pessoas estão perdendo sua capacidade de serem indivíduos éticos, estão submetendo sua consciência ao mal simplesmente por preguiça e osmose. A sujeição do indivíduo ao poder corrupto e criminoso, à engrenagem do mal, da qual agora já se tornam parte. Tornando-se mais engrenagens e menos indivíduos, contudo, como não são capazes de anular suas consciências irão responder por seus atos perante o tribunal da história.

Está chegando a infeliz hora de o brasileiro descobrir o que foram os campos de concentração e os gulags russos. Ficam os votos para que não renasça das cinzas do pecado deste ato consciente de omissão aliado a estupidez arrogante dos “homens sapos” outro holocausto ou “Holodomor” em terras tupiniquins.



Edmund Burke – “Para que o mal vença basta que os bons nada façam”.



Prof Daniel Rocha .

Pequeno dicionário gramscista





Pequeno dicionário gramscista


ESCRITO POR FÉLIX MAIER | 26 JULHO 2012
ARTIGOS - MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO

A doutrina fascista de Gramsci e de outros intelectuais europeus, como os integrantes da Escola de Frankfurt, modificou por completo toda a estrutura cultural do Ocidente nas últimas décadas - para pior.

No Brasil, vivemos, atualmente, em um verdadeiro sistema fascista, em que há a cooptação de todos os setores da sociedade pelo poder central de Brasília, não havendo nenhum tipo de oposição política ao esquema. É o que eu batizei de "fascismo gay" (veja verbete abaixo), já que todos estão “alegres” em viver em tal sistema - gramscista-fascista em sua estrutura -, recebendo uma bolsa aqui, outra ali, todos satisfeitos em viver numa sociedade em que há apenas direitos, não deveres. Hoje, até empresários se dizem "socialistas", como o capitalista Paulo Skaff, presidente da Fiesp, que se candidatou nas eleições passadas pelo Partido Socialista Brasileiro para o governo de São Paulo, perdendo para Geraldo Alckmin.

Gramsci deve estar muito orgulhoso de seus escritos feitos no cárcere! Afinal, se tinha alguém que entendia verdadeiramente de fascismo, essa pessoa era Antonio Gramsci.
Os verbetes abaixo farão parte do meu livro A LÍNGUA DE PAU - Uma história da intolerância e da desinformação.

Aparelhamento - É a infiltração de um partido ou classe social em todos os órgãos do Estado, com o intuito de controle total a serviço de sua ideologia ou conveniências. O sucessor de FHC criou mais de 20.000 cargos de confiança para a companheirada, dentro da doutrina gramscista de “ocupação de espaços”. Além do aparelhamento do Estado, feito com vagar e vigor desde o início da Nova República, o objetivo é duplo: angariar votos (cada emprego garante, no mínimo, cinco votos para candidatos do partido) e fazer caixa para o PT, já que todo filiado tem obrigação de contribuir com o “dízimo” para a igreja petista, que pode chegar a 20% do salário. O “fascismo gay” do sucessor de FHC ampliou o aparelhamento do partido em antigos institutos, como o IBGE e o IPEA, que primavam pela seriedade e hoje têm a mesma credibilidade de um instituto cubano ou norte-coreano, ou seja, zero. “A mentalidade burocrática - que, de acordo com Brentano, é ‘a única caixa de ressonância da Associação para a Política Social’ - considera construtiva e positiva apenas a ideologia que exija o maior número de repartições públicas e de funcionários. E quem procura reduzir o número de agentes do Estado é tachado de ‘pessimista’ ou de ‘inimigo do Estado’ ” (MISES, 1987: 86). Se não existisse o aparelhamento esquerdista da mídia, o sucessor de FHC teria sofrido impeachment por conta do mensalão.

Cadernos do Cárcere - Antonio Gramsci foi um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, em 1921. Cadernos do Cárcere é sua obra-prima, escrita durante sua prisão na Itália, de 1926 a 1935. “Esta publicação, difundida em vários continentes, passou a ser o catecismo das esquerdas, que viram nela uma forma muito mais potente de realizar o velho sonho de implantar o totalitarismo, sem que fosse necessário o derramamento de sangue, como ocorreu na Rússia, na China, em Cuba, no Leste Europeu, na Coreia do Norte, no Camboja e no Vietnã do Norte. (...) Gramsci professava que a implantação do comunismo não deve se dar pela força, como aconteceu na Rússia, mas de forma pacífica e sorrateira, infiltrando, lenta e gradualmente, a ideia revolucionária. (...) A originalidade da tese de Gramsci reside na substituição da noção de ‘ditadura do proletariado’ por ‘hegemonia do proletariado’ e ‘ocupação de espaços’, cuja classe, por sua vez, deveria ser, ao mesmo tempo, dirigente e dominante. Defendia que toda tomada de poder só pode ser feita com alianças e que o trabalho da classe revolucionária deve ser, primeiramente, político e intelectual” (Anatoli Oliynik, in “A Tomada do Poder - Gramsci e a Comunização do Brasil”- http://blog.anatolli.com.br/2009/10/12/gramsci-e-a-comunizacao-do-brasil-2/, acesso em 9/6/2011). 



“Paradoxal e surpreendentemente, a primeira publicação no Brasil dos Cadernos do Cárcere, do comunista italiano Antonio Gramsci - uma iniciativa de Ênio Silveira e de sua Editora Civilização Brasileira - veio à luz entre 1966 e 1968, com uma reedição em 1970, em plena ‘ditadura’. Um ‘cochilo’ da censura ou a ‘mordaça’ não era tão severa como muitos na época e ainda hoje querem fazer crer? Isto é a confirmação do que afirmou Olavo de Carvalho, ao dizer que ‘por uma coincidência das mais irônicas, foi a própria brandura do governo militar que permitiu a entronização da mentira esquerdista como história oficial’ quando ‘o governo, influenciado pela teoria golberiana, jamais fez o mínimo esforço para desafiar a hegemonia da esquerda nos meios intelectuais, considerados militarmente inofensivos’ ” (Gen Div Negrão Torres – História Oral do Exército/1964, Tomo 14, pg. 80).

Cooptação política - Processo pelo qual o Estado trata de submeter à sua tutela formas autônomas de participação. Por exemplo, no Governo Vargas, a criação do Ministério do Trabalho e do sistema previdenciário foram transformados em capital político do PTB. Com o governo petista, firmou-se no Brasil o “fascismo gay”, de base gramscista.

Escola de Frankfurt - Famosa escola (de pau) de pesquisa sociológica alemã da década de 1920, deu ênfase, entre outras pesquisas, à “personalidade autoritária” da sociedade e à “teoria crítica” ou contracultura, de modo a destruir instituições tradicionais, como a família e a religião, dentro do conceito “politicamente correto”. Tinha entre seus teóricos Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Eric Fromm, Walter Benjamin, Marx Horkheimer, Jürgen Habermas, Eric Hobsbawn, Umberto Eco. Tomando como ideal o “homem livre” (um tema sem teor científico, um mero sonho), deveria explicar por que, depois do Iluminismo e de Marx – agora, que pela primeira vez na história, a sociedade industrial estava finalmente organizada socialmente –, o mundo produzia ainda tantas personalidades autoritárias, líderes e seus vassalos. A chamada “Escala F” do livro Personalidade Autoritária (coproduzido por Max Horkheimer) “media” os traços da personalidade autoritária: 1) passividade automática ante os valores convencionais; 2) cega sujeição à autoridade; 3) inimigo da introspeção; 4) rígido; 5) pensamento mediante clichês; enfim, tudo se destinava a determinar e quantificar o antissemitismo, o racismo, o conservadorismo econômico etc. Horkheimer e Adorno foram diretores da Escola. Na década de 1930, a Escola transferiu suas atividades para os EUA, fugindo do Nazismo, primeiro para a Universidade de Colúmbia, em Nova York, e depois para a Califórnia. Após a II Guerra Mundial, a Escola voltou a seu lugar de origem, Frankfurt. 

A Escola de Frankfurt foi “erguida com o dinheiro de Hermann Weil, capitalista e explorador do trigo (e da mão-de-obra barata) argentino. Da cátedra da Escola, os seus integrantes mais notáveis (alguns deles filhos de banqueiros e milionários), diante da crescente supremacia do capitalismo, atiram sofisticados petardos contra o que julgam ser a ‘estrutura dominante’ da sociedade industrial contemporânea. Um dos seus mais destacados mentores, Theodor Adorno (1903-1969) - que morreu de enfarte após uma aluna ter ficado nua na sala de aula para testar o grau de sinceridade do mestre pelas liberdades individuais por ele proclamadas -, era taxativo em afirmar (Dialética Negativa, 1966), por meio da ‘ênfase dramática’, que o mundo e as consciências viviam alienados e não tinham mais salvação, apontando a concentração do capital, o planejamento burocrático e a máquina ‘reificadora’ da cultura de massa como forças destruidoras das liberdades individuais (vindo daí, naturalmente, todo o arsenal crítico mais pretensioso contra Hollywood)” (PONTES, 2003: 42).

Fascismo gay - Trata-se do fascismo brasileiro, de tempero gramscista, consolidado pelo sucessor de FHC, o gay fascism. Nesse modelo, não existe oposição e todos os setores da sociedade, inclusive empresários, estão “alegremente” (gay) cooptados com as benesses do Poder Central. “O ‘pensamento’ de Marx (e de seus seguidores) continua a causar estragos e até a apresentar-se como ‘hegemônico’, sobremodo em algumas partes da descarnada América Latina. É puro ‘non-sense’. Mas pelo menos no Brasil é inquestionável a supremacia da dogmática marxista, pois o país tornou-se o espaço vital onde milhares e milhares de militantes esquerdistas, comandados por uma máquina bem-azeitada e nutrida o mais das vezes nos fundos públicos (subtraídos a muque do bolso do trabalhador e dos empresários contribuintes), atuam sistemática e proficuamente nas cátedras, parlamentos, púlpitos, quartéis, mídias, associações civis e militares, sindicatos, prisões, palcos, telas e até nos prostíbulos, com o objetivo único e irreversível de ‘socializar’ a nação”(PONTES, 2003: 42-3). “Na medida em que crescem, de forma galopante as escorchantes tributações sobre os bens privados, do trabalhador e dos empresários, aumenta em proporção geométrica o número dos ‘excluídos’, pois uma coisa decorre da outra: é o Estado (com suas elites, suas agências, instituições e burocracia em geral) que se apropria, por força da violência legal (e da inércia ou ignorância da população), da riqueza produzida pela sociedade para usufruto diuturno de privilégios” (idem, pg. 43).

No Brasil, “os antigos militantes da luta armada trocaram as selvas e os ‘aparelhos’ urbanos pelas vias democráticas: alguns tornaram-se parlamentares, ministros, membros do governo, ecologistas, professores, comentaristas da mídia, e outros tranformaram-se simplesmente em líderes religiosos e integrantes ativos das ONGs, constituídas por vasto contingente de ‘intelectuais orgânicos’ muito bem remunerados com recursos do próprio governo e de grupos e empresas internacionais. A estratégia ‘democraticamente’ adotada para tornar o Brasil uma ‘República Popular Socialista’ é a da ‘revolução passiva’, extraída dos ‘Cadernos do Cárcere’ de Antonio Gramsci (1891-1937), um membro do Comitê Central do Partido Comunista italiano que discordava parcialmente das teses revolucionárias de Lênin e pregava a tomada do poder pela ação ‘hegemônica’ dos intelectuais infiltrados no aparelho do Estado e suas instituições” (idem, pg. 57). 

“O mercado não dá a menor bola para esse tipo de debate. Ele não quer saber qual é a ideologia do petismo. A sua pergunta sempre será a seguinte: o modelo rende? Rende. Então tudo está no seu devido lugar” (AZEVEDO, 2008: 138). “Somos mais governados pelo PT que não vemos do que por aquele que vemos. (...) A mina de ouro está nas diretorias e nos milhares de cargos das estatais. É aí que está alojado o PT. É por isso que eles lamentam tanto as privatizações do governo FHC. Imaginem se essa gente tivesse, por exemplo, a Telebrás nas mãos: 27 presidências regionais, mais os milhares de cargos de confiança. Mais a Vale, a CSN, a Embraer...” (AZEVEDO, 2008: 124-5). “Dezenas de jornalistas aguardavam uma definição na portaria do edifício Rocha. Por pouco não desci para dizer-lhes que não haveria mais a chapa PT-PL. Quando já ia pegar o elevador, fui chamado de volta. As negociações haviam recomeçado, agora no quarto do anfitrião. Embora sempre procurasse me manter à distância nessas horas, esperando por uma decisão para comunicá-la à imprensa, estava claro para todos que o impasse se dava na questão da ajuda financeira que o PL tinha pedido ao PT para fazer sua campanha. Somente três anos depois, quando estourou o ‘escândalo do mensalão’, eu ficaria sabendo que o valor solicitado era de 10 milhões de reais. No início da noite, os dirigentes dos dois partidos anunciaram que a aliança estava selada, como queriam Lula e Alencar” (KOTSCHO, 2006: 223).

Gramscismo - “Gramsci, incapaz de se ver no papel de líder, tirou de Maquiavel não a idéia de um príncipe individual, como Mussolini o fez, mas sim a de um coletivo: o príncipe moderno, o príncipe mito, não pode ser uma pessoa real, um indivíduo concreto - ele só pode ser uma organização” (JOHNSON, 1994:78).“Gramsci, que queria ‘o partido’ como o Moderno Príncipe, dizia que ele deveria ser o ‘imperativo categórico’ da sociedade e que tudo deveria existir e ser feito em função de suas necessidades. Até mesmo a crítica deveria ser autorizada por ele e tê-lo como referência. Em certos setores da imprensa, já experimentamos algo parecido. Só se aceita que petistas contestem petistas” (AZEVEDO, 2008: 26-7). “O pacto urbano, em decorrência, é ‘soldado’ pela participação do intelectual, para usar uma expressão de Gramsci” (GENRO, 1982: 30).

Guerra de Movimento - Concepção gramscista, equivalente à “revolução permanente” de Marx e Engels, adotada pelos comunistas contra os Estados absolutistas ou despóticos do tipo “Oriental” e também contra os Estados liberais elitistas da 1ª metade do Século XIX, para implantação do socialismo.

Guerra de Posição - Concepção gramscista, mais adequada contra os Estados modernos e democráticos do tipo “Ocidental”, para conquista do socialismo. Essa concepção está sendo implantada com sucesso no Brasil, desde a redemocratização (1979), com a atuação das esquerdas em todos os órgãos nacionais, governamentais ou não - especialmente na Educação e nos meios culturais.

Hegemonia cultural - “A hegemonia consiste na criação de uma mentalidade uniforme em torno de determinadas questões, fazendo com que a população acredite ser correta esta ou aquela medida, este ou aquele critério, esta ou aquela ‘análise de situação’, de modo que quando o comunismo tiver tomado o poder, já não haja qualquer resistência. Isso deve ser feito, segundo ensina Gramsci, a partir de diretrizes indicadas pelo ‘intelectual coletivo’ (o partido), que as dissemina pelos ‘intelectuais orgânicos’ (ou ‘formadores de opinião’), sendo estes constituídos de intelectualóides de toda sorte, como professores – principalmente universitários (porque o jovem é um caldo de cultura excelente para isso), a mídia (jornalistas também intelectualóides) e o mercado editorial (autores de igual espécie), os quais, então, se encarregam de distribuí-las pela população. (...) A outra técnica gramsciana - a da ocupação de espaços - já dava mostras tão evidentes de visibilidade entre nós, com a nomeação de 20 mil cargos de confiança pelo PT em todo o território nacional (só para cargos federais!), que nem mesmo precisaria ser novamente denunciada. O que faltava, entretanto, era fazer a conexão com a primeira técnica - a hegemonia”.
 (Dra. Marli Nogueira, Juíza do TRT em Brasília, in “Técnica Gramsciana e o Partido dos Trabalhadores”, 13/6/2005). 


“Nesse livro [O Repórter e o Poder, do jornalista José Carlos Bardawwil], ele dá vários depoimentos que mostrou o poder imenso que, já na década de 1970, o Partido [PCB] tinha sobre a classe jornalística” (Otto Maria Carpeaux - HOE/1964, Tomo 3, pg. 122). “Gramsci agora está convencido de que para se tornar ‘classe dirigente’, para triunfar naquela estratégia mais complexa de longo alcance, o proletariado não pode se limitar a controlar a produção econômica, mas deve também exercer sua direção político-cultural sobre o conjunto das forças sociais que, por essa ou aquela razão, desse ou daquele modo, se opõem ao capitalismo” (COUTINHO, 1989: 36). “As principais causas da corrupção são velhas conhecidas: instituições frágeis, hipertrofia do estado, burocracia e impunidade. O governo federal emprega 90000 pessoas em cargos de confiança. Nos Estados Unidos, há 9051. Na Grã-Bretanha, cerca de 300. ‘Isso faz com que os servidores trabalhem para partidos, e não para o povo, prejudicando severamente a eficiência do estado’, diz Claudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil” (Revista Veja,in “A vingança contra os corruptos”, 26/10/2011, pg. 80).
Intelectual orgânico - Trata-se de intelectual orgânico ao Partido dos Trabalhadores, muito comum na USP (Emir Sader, Marilena Chauí, Maria Aparecida Aquino), na Unicamp e na UnB (Marcos Bagno, reitor José Geraldo Sousa, o “Zé do MST”). A expressão foi criada por Gramsci para qualificar o militante marxista existente na cultura e no magistério. “Quem ler qualquer revista ou jornal, ou livros acadêmicos, ou vir o vestibular (da USP, da UFPR, da UNICAMP) não demorará muito até encontrar frases do tipo ‘a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas’ ou ‘o capitalismo baseia-se na exploração de uns pelos outros’ ” (PEREIRA, 2003: 271). “Marcuse usava uma expressão absolutamente fantástica: dizia que a estratégia deveria ser não a de atacar o sistema, mas a de fazer sua decomposição difusa. Isto é, você espalharia, por tudo quanto é lado, militantes e intelectuais - sem ligação aparente uns com os outros - que iriam corroendo, aos poucos, todos os valores, instituições etc. e destruindo sua estrutura de dentro para fora” (Otto Maria Carpeaux -HOE/1964, Tomo 3, pg. 118-9).

Politicamente correto - Não se deve chamar um homem baixo de “anão”. Nem de “baixinho”. É politicamente correto chamá-lo de “negativamente avantajado”. Preto brasileiro deve ser chamado de “afro-brasileiro” (e Gustavo Kuerten e Giselle Bünchen, de teuto-brasileiros). Infanticídio não existe mais, apenas “aborto”, um “direito da mulher dispor de seu próprio corpo”. Prostituta não é mais prostituta, é “empresária do sexo”. Papa-defunto virou “empresário do luto”. “Pederasta”, palavra que tentaram riscar do atual Código Civil, passou a ser o inofensivo “gay”. Os proprietários do Dicionário Webster foram obrigados a “riscar” várias palavras, como “crioulo”. Uma deputada distrital do PT, no Governo Cristóvam Buarque, apresentou projeto semelhante, visando riscar do Dicionário Aurélio palavras julgadas “ofensivas”. (Na mesma época, o PT negou a Pelé o título de cidadão brasiliense.) Com essa bobagem semântica - a “novalíngua” -, o movimento do “politicamente correto”, dominado pelas esquerdas, se assenhorou da mídia e aproveita para distorcer fatos que lhe são antipáticos e dourar a pílula que todos devem engolir. Politicamente correto não é nada mais do que “marxismo cultural” ou “multiculturalismo” e tem por objetivo destruir a cultura ocidental e a religião cristã, com a contribuição importante de Georg Lukacs (“terrorismo cultural”), Antonio Gramsci (“longa marcha nas instituições”, ou seja, o domínio das escolas, mídia, até igrejas, para influenciar a cultura) e os integrantes da “teoria crítica” da Escola de Frankfurt, que inicialmente seria chamada de “Instituto para o Marxismo”: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Eric Fromm, Wilhelm Reich e Herbert Marcuse. ”A correção política é a carrancuda vingança do rancoroso, intolerante e mal-intencionado idiota sobre tudo aquilo que tem vida no mundo. Não é nada mais do que o recurso insincero e desprovido de humor de mentes tão medíocres, que, para eles, o ressurgimento do stalinismo é preferível à dor de um vislumbre do Ser - é o último vestígio da besta que Nietzsche identificava como ‘ressentimento’. Tais mentes tiram sua melancólica noção de prazer - como as fantasiosas ereções de eunucos centenários - maquiando o pouco que desejam conhecer da História para pessoas que parecem não se conformar com os padrões artificiais dos mais ineptos governos do século XX” (SEYMOUR-SMITH, 2002: 84-5). 

“Um dos objetivos da "novilíngua" (vide Orwell) é apagar as emoções e tornar tudo pasteurizado, anódino, sem emoção. Os sentimentos devem ser varridos para debaixo do tapete. Tome cuidado com o que fala. O termo ‘crioulo’ pode enquadrá-lo na Lei Caó (cujo apelido nos tempos da UNE era Crioulo). Tudo depende de como se fala, embora a descrição ‘passou por aqui, era um crioulão’ seja adequada. Mas, se fosse vivo, Adolfo Caminha teria problemas com ‘O bom crioulo’ ” (Fritz Utzeri, in “O Politicamente correto”).

Até o Exército Brasileiro se rendeu à língua do PC: não se realizam mais grupos de trabalho para tratar de Recursos Humanos, mas de “Talentos Humanos”. Nos EUA, o jornalista Bernard Goldberg lançou o livro Bias - A CBS Insider Exposes How the Media Distort the News (Tendencioso - Um Conhecedor da CBS Mostra Como a Mídia Distorce as Notícias). Logo, Goldberg foi tachado de “mentiroso”, “extremista de direita”. Uma das teses polêmicas de Goldberg se refere aos doentes da AIDS, cujos números foram escondidos para agradar ao lobby dos homossexuais e das minorias raciais dos EUA (negros e hispânicos), para acelerar as pesquisas de remédios. Por exemplo, dos aidéticos mostrados na TV, 6% eram gays, 16% eram negros e hispânicos e 2% eram drogados. Na verdade, 58% eram gays, 46% eram negros e hispânicos e 23% eram drogados (período estudado: 1992 a 1995). A Universidade de Oxford, nos EUA, lançou uma versão “politicamente correta” do Novo Testamento (Novo Testamento e Salmos: uma versão não excludente), onde há alterações, como: “A expressão Deus Pai passa a ser Deus Pai e Mãe; a oração Pai-Nosso recebe o nome de Pai e Mãe Nossos; foi excluído o termo ‘escuridão’ como sinônimo do mal por Ter conotação racista; eliminaram-se as acusações de que os judeus mataram Jesus Cristo; as mulheres deixam de ser ‘sujeitas’ aos maridos e passam a ser ‘compromissadas’; as crianças devem ‘prestar atenção aos pais’, não ‘obedecê-los’ ” (“Deus Pai e Mãe”,in revista Istoé, 6/9/1995). “Em qualquer país, preconceitos e maneiras ofensivas de pensar ficam entranhados na linguagem e nas instituições sem às vezes nos darmos conta disso. O legado mais positivo do politicamente correto foi chamar atenção para esse fato e nos tornar mais atentos para as situações em que ofendíamos inadvertidamente um grupo ou uma minoria. (...) No ambiente acadêmico, qualquer opinião deve passar pelo teste do debate, e ser mantida ou descartada por seus méritos, não porque alguém disse que ela é aceitável ou inaceitável a priori. O politicamente correto tentou estabelecer códigos do que era apropriado pensar e dizer e, nesse sentido, foi muito nefasto” (Lawrence Summers, reitor da Universidade de Harvard, entrevista a Veja, 31/3/2004, pg. 14). “O politicamente correto consiste na observação da sociedade e da história em termos maniqueístas. O politicamente correto representa o bem e o politicamente incorreto representa o mal. O sumo bem consiste em buscar as opções e a tolerância nos demais, a menos que as opções do outro não sejam politicamente incorretas; o sumo mal encontra-se nos dados que precederiam à opção, quer sejam estes de caráter étnico, histórico, social, moral e sexual, e inclusive nos avatares humanos. O politicamente correto não atende à igualdade de oportunidade alguma no ponto de partida, senão, ao igualitarismo nos resultados no ponto de chegada” (Entrevista de Vladimir Volkoff a Marc Vittelio - site Mídia Sem Máscara, 27/04/2004). “O típico intelectual exasperado de hoje defende sistematicamente reivindicações contraditórias: liberação do aborto e repressão ao assédio sexual, moralismo político e imoralismo erótico, liberação das drogas e proibição dos cigarros, destruição das religiões tradicionais e defesa das culturas pré-modernas, democracia direta e controle estatal da posse de armas, liberdade irrestrita para o cidadão e maior intervenção do Estado na conduta privada, antirracismo e defesa de ‘identidades culturais’ sustentadas na separação das raças, e assim por diante” (CARVALHO, 2000: 90-91). Por pressão de grupos LGBT, MPF e Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, do MJ, o ministério da Defesa irá propor aos legisladores tirar a palavra “pederastia” do Código Penal Militar, que em seu art. 235 trata aquela prática como crime.

Revolução Passiva - No Brasil, “os antigos militantes da luta armada trocaram as selvas e os ‘aparelhos’ urbanos pelas vias democráticas: alguns tornaram-se parlamentares, ministros, membros do governo, ecologistas, professores, comentaristas da mídia, e outros transformaram-se simplesmente em líderes religiosos e integrantes ativos das ONGs, constituídas por vasto contingente de ‘intelectuais orgânicos’ muito bem remunerados com recursos do próprio governo e de grupos e empresas internacionais. A estratégia ‘democraticamente’ adotada para tornar o Brasil uma ‘República Popular Socialista’ é a da ‘revolução passiva’, extraída dos ‘Cadernos do Cárcere’ de Antonio Gramsci (1891-1937), um membro do Comitê Central do Partido Comunista italiano que discordava parcialmente das teses revolucionárias de Lênin e pregava a tomada do poder pela ação ‘hegemônica’ dos intelectuais infiltrados no aparelho do Estado e suas instituições” (PONTES, 2003: 57).

Senso comum - O mundo como conhecemos é alicerçado no senso comum dos povos. O marxismo quer “superar” esse conceito, criar uma “ruptura”. Gramsci denominava esse objetivo estratégico de “superação do senso comum”: “É exatamente a ‘superação do senso comum’ que fez com que todos acreditassem piamente que a Contrarrevolução de 1964 não passou de um ato impensado dos militares que, na falta do que fazer, decidiram implantar uma ditadura” (Marli Nogueira, Juíza do TRT em Brasília, in "Técnica Gramsciana e o Partido dos Trabalhadores", 13/6/2005). “Segundo Sérgio Augusto de Avelar Coutinho, a superação do senso comum é um empreendimento de profunda transformação cultural e psicológica da sociedade e ‘consiste em apagar certos valores tradicionais e uma parte significativa da herança cultural da sociedade burguesa e substituí-la por conceitos novos e pragmáticos” (PEDROSA: 2008, 73). “Certamente, tal reviravolta, orientada pelas ideias de Gramsci, devia ser compreendida por intelectuais para a tomada do poder no lugar dos operários, marinheiros, soldados e camponeses da velha ortodoxia leninista, stalinista ou maoísta. Desta forma, o movimento seria direcionado para a formação de mentalidades nas universidades e escolas, campos preferidos para ‘conscientização’ do rumo das transformações” (idem, pg. 73). O “fascismo gay” brasileiro é isso, a mudança radical do senso comum antigo, da ética judaico-cristã, uma quebra de paradigma das leis sociais e econômicas, que devem dar vez a esse híbrido stalinista-gramscista, o comunofascismo.
Socialismo do século XXI - Sistema neocomunista, em implantação na Venezuela (Hugo Cháves), na Bolívia (Evo Cocales), no Equador (Rafael Garcia), na Nicarágua (Daniel Ortega), na Argentina (Cristina Kirchner), no Brasil (Lula-Dilma), obedecendo ao objetivo estratégico do Foro de São Paulo (FSP), que é comunizar toda a América Latina. Segundo Viviana Padelin, do movimento Fraternidad Libertaria Latinoamericana, esse tipo de socialismo é implantado em três etapas (Cfr. Las fases del neocomunismo o socialismo de siglo XXI, disponível na internet):
1ª. Etapa - Governo populista: assistencialismo, aumento da quantidade de cargos públicos, aumento de salários, controle paulatino dos meios de comunicação e da cultura, corrupção, discriminação e direitos humanos, revisão da história recente (governos militares), desvalorização dos símbolos pátrios, aumento da delinquência, desmantelamento progressivo das forças de segurança ou sua cooptação com o novo regime, utilização de menores de idade para delinquir, fragmentação da oposição, ataques à Igreja Católica, ocupação de fábricas e terras “não produtivas”, aumento de ONGs de esquerda, criação de grupos de choque, criação de novas universidades de orientação esquerdista, aumento de impostos, aumento do consumo de drogas e narcotráfico, censo habitacional para conhecer os domicílios desocupados, fragmentação da central sindical, quebra do sistema de saúde;
2ª. Etapa- Etapa de implantação e consolidação: quebra da classe média, reforma constitucional, aprovação de casamento homossexual, aprovação do aborto, lei da censura, perseguição midiática e judicial, colapso do judiciário, a delinquência governa as ruas, legalização da maconha, destruição moral e física das Forças Armadas e da Segurança Pública, oposição fragmentada (incapaz de gestão eficaz, mesmo vencendo as eleições), elegem-se novos inimigos para serem combatidos pelos grupos de choque do sistema, divisão de municípios e estados, perseguição religiosa (especialmente contra católicos e evangélicos), criação de milícias armadas;
3ª. Etapa- Fase inicial do neocomunismo: “expropriações”, presos e crimes políticos, ataque à Igreja Católica, regime eleitoral à feição do partido do governo, eleições espúrias, espiral inflacionária.
A autora se esqueceu de acrescentar o item “desarmamento da população”. A Venezuela de Hugo Chávez é o país que está mais avançado na implantação do neocomunismo. Como visto acima, o Brasilistão do “fascismo gay” já queimou algumas das etapas previstas no “Socialismo do Século XXI”. Enquanto Chávez se utiliza da truculência para implantar o socialismo, a esquerda brasileira se utiliza da revolução passiva e permanente preconizada por Gramsci, de modo a cooptar toda a sociedade em torno de um partido-governo, o PT. A estratégia brasileira rumo ao socialismo, ao contrário do que parece, é muito mais insidiosa e perigosa do que a estratégia do brucutu Chávez, porque se este cair, cai também o “bolivarianismo” venezuelano. No Brasil, ao contrário, seja quem for o presidente eleito, o “fascismo gay” vai seguir “alegre” como nunca, porque já existe uma grande ruptura na sociedade brasileira e quebra de paradigmas no que se refere ao antigo senso comum, à ética, à religiosidade, fruto de nossa herança cultural judaico-cristã, a qual é ferozmente combatida pelo socialismo ateu.

Sociedade civil - Denominação utilizada pela primeira vez por Adam Ferguson, em 1767, em seu Ensaio sobre a história da sociedade civil, no qual discorre sobre as virtudes do homem na sociedade civil, ou seja, a "sociedade civilizada", em oposição ao homem isolado e bruto. O marxista francês L. Althusser, aplicando a dialética hegeliana, afirmou que em cada sociedade há embutidas duas sociedades diferentes e opostas: a sociedade política ou Estado (classe dominante) e a sociedade civil (sociedade dominada ou povo), denominações fartamente utilizadas por Antônio Gramsci. Gramsci, um dos fundadores do Partido Comunista da Itália, Seção Italiana da Internacional Comunista, em sua Teoria Ampliada do Estado considera duas esferas no interior das superestruturas:
1) Sociedade Política, que ele chama de “Estado em sentido estrito” ou “Estado-coerção”, que é formada pelo conjunto de mecanismos através dos quais a classe dominante detém o monopólio legal da repressão e da violência, e que identifica com os aparelhos de coerção sob controle das burocracias executiva e policial-militar; e
2) Sociedade Civil: compreende as ONG, organizações comunitárias, associações de moradores, organizações religiosas, partidos políticos, sindicatos, associações profissionais, corporações privadas sem finalidades lucrativas, organizações societárias (membros, sócios), e todas as formas de organizações e instituições privadas, como fundações, escolas, universidades, centros de pesquisas e a organização material da cultura (revistas, jornais, editoras, meios de comunicação de massa etc.). Entenda-se “sociedade socialista”, no pensamento de pau gramscista. Segundo Gramsci, é a Sociedade Civil, em sua “guerra de posição” nos estados democráticos modernos, que irá levar esses países à conquista do socialismo. A “guerra de movimento” ou “revolução permanente”, na acepção de Marx e Engels em 1850, será adotada contra os estados absolutistas ou despóticos, ou contra estados democraticamente fracos. O Brasil, desde o advento da Nova República, em que o “Estado coercitivo” tradicional está se tornando cada vez mais inoperante e inútil, está pavimentando rapidamente o caminho que levará ao paraíso sonhado por Antonio Gramsci. Com o sucessor de FHC, consolida-se, enfim, o “fascismo gay”.

USP - Universidade de São Paulo: fundada em 1934, no Governo de Armando Sales de Oliveira, e nesta, a Faculdade de Filosofia e Letras, que se tornaria, com Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni, numa das matrizes de difusão do Marxismo. Em 1958, foi montado na Faculdade de Filosofia da USP o “Seminário Marx” por Fernando Henrique Cardoso, Ruth Cardoso, José Artur Gianotti, Octávio Ianni, Paul Singer, Juarez Brandão Lopes e Roberto Schwartz. Em 1966, os autores mais lidos eram Lebret, Mounier, Marx, Sartre, Teilhard de Chardin e o Pe. Henrique de Lima Vaz, seguidos por Michel Quoist, Kalil Gilbran, Celso Furtado e José de Castro (que publicou, em 1947, Geografia da Fome, e em 1951, Geopolítica da Fome). “Não foi Marcuse o único guru dessa geração. Outros disputavam essa influência, Mao, Guevara, Debray, o pétreo estalinista Lukacz, sobretudo Gramsci, os autores da Escola de Frankfurt - Walter Benjamin, Adorno, o ascendente jamais cadente Eric Hobsbawn, marxista inglês, e o então noviço Umberto Eco, que ainda esperaria alguns anos pelas grandes tiragens da perversa O Nome da Rosa, e Althusser, que propunha nova leitura de Marx, nova interpretação teológica dos santos livros. (...) A Revista Civilização Brasileira, de Enio da Silveira, acolhia autores prestigiosos. Corria de mão em mão. Entre seus colaboradores o agora, avançado e liberal Alceu Amoroso Lima, o futuroso FHC, Ferreira Gullar, Paulo Francis, ao tempo trotskista – depois, em boa hora, convertido à democracia, por isso repudiado e mantido no escanteio –, Nelson Werneck Sodré, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho – todos crismados ‘aprendizes’ de Lukacz” (José Arthur Rios in “Raízes do Marxismo Universitário”). Arthur Rios é o criador de um axioma imortal: “Pais positivistas, filhos marxistas, netos terroristas”.

Bibliografia:
AZEVEDO, Reinaldo. O País dos Petralhas. Record, São Paulo e Rio de Janeiro, 2008.
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições (2ª edição, revista). Realizações, São Paulo, 2000.
COUTINHO, Carlos Nelson (org.). Gramsci e a América Latina. Editora Paz e Terra. São Paulo, 1988 (Tradução de Marco Aurélio Nogueira).
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci - Um estudo sobre seu pensamento político. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1989.
GENRO, Tarso Fernando. Literatura & Ideologia - Um novo romance latino-americano. Edições Criar, Curitiba, 1982.
JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80. Bibliex e Instituto Liberal, Rio, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).
KOTSCHO, Ricardo. Do golpe ao Planalto - Uma vida de repórter. Companhia das Letras, São Paulo, 2006.
MISES, Ludwig von. Uma crítica ao intervencionismo. Instituto Liberal e Nórdica, Rio, 1987 (Tradução de Arlette Franco).
PEDROSA, J. F. Maya. O Revisionismo Histórico Brasileiro - Uma proposta para discussão. Bibliex, Rio, 2008.
PEREIRA, Alfredo Severo dos Santos. As Falsas Bases do Comunismo (3ª. edição). Editora Vila do Príncipe, Curitiba, 2003.
PONTES, Ipojuca. Politicamente Corretíssimos. Topbooks, Rio, 2003.
SEYMOUR-SMITH, Martin. Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade - A História do Pensamento dos Tempos Antigos ?Atualidade. Difel, Rio, 2002 (3ª edição - Tradução de Fausto Wolff).
 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A INFELICIDADE DO SÉCULO, TRECHOS E FRAGMENTOS


                                           
     


O desacordo tem a ver com o que este século tem de mais característico em relação aos outros: a extraordinária amplitude do massacre de homens feito por homens, que só foi possível pela tomada do poder pelo comunismo de tipo leninista e pelo nazismo de tipo hitlerista. Esses “gêmeos heterozigotos” (Pierre Chaunu), ainda que inimigos e originários de histórias diferentes, têm vários traços em comum. Eles se colocam como objetivo chegar a uma sociedade perfeita, destruindo os elementos negativos que se opõem a ela. Eles pretendem, ser filantrópicos, pois querem, um deles, o bem de toda a humanidade, o outro, o do povo alemão, e esse ideal suscitou adesões entusiásticas e atos heróicos. Mas o que os aproxima mais é que ambos se dão o direito — e mesmo o dever — de matar, e o fazem com métodos que se assemelham, numa escala desconhecida na história.

A dificuldade decorre do fato de que, para responder à segunda questão, é preciso mudar de nível de análise. Pode-se, de fato, comparar o comunismo com o nazismo como duas espécies do mesmo gênero, o gênero ideológico. A sedução, a natureza e o modo de seu poder, o tipo de seu crime, vinculam-se à formação mental de que eles dependem inteiramente: a ideologia. Eu entendo por essa palavra uma doutrina que promete, por meio da conversão, uma salvação temporal, que se pretende conforme a uma ordem cósmica decifrada sistematicamente em sua evolução, que impõe uma prática política que visa a transformar radicalmente a sociedade.

O relatório de Kruschev não expressa o menor arrependimento pelas vítimas não-comunistas do comunismo. O único crime verdadeiro do sistema stalinista, e que o encheu de indignação, é o de ter assassinado, em grande escala, comunistas fiéis à causa. No entanto, essa confissão tão incompleta introduziu um senão na lógica rígida da ideologia e provocou uma fissura na muralha que envolvia o segredo. Os crimes contra os comunistas só eram verdadeiramente condenáveis, segundo o secretário-geral, na medida em que eles prejudicavam o projeto e enfraqueciam o próprio poder comunista. Mas depois do relatório perguntava-se sobre os crimes cometidos pelos comunistas. O sistema se tornou objeto de um questionamento geral, de uma investigação a partir de uma suspeita legítima impossível de ser detida. A investigação se desenvolveu, ainda que debilmente e de forma descontínua, porque o poder comunista manteve-se ainda durante cerca de trinta anos, período quase tão longo quanto aquele que o separava de seu nascimento. Durante todo esse tempo, ele negou absolutamente, ao mesmo tempo que procedia ao lento desmantelamento do sistema dos campos. O arquipélago do Gulag (1974) teve um efeito reprodutor contra a falsidade da mentira. Mas aquele era apenas um texto: faltava o que os romances policiais ingleses chamam de “the evidence of the corpse”, a prova do cadáver. Ninguém no mundo tinha visto ou tocado os campos comunistas, senão os raros sobreviventes. As valas comuns do Camboja foram a exceção. Apesar de tudo, no momento da queda pode-se dizer que o segredo tinha sido revelado - apesar de que a continuidade da negação no que se refere ao comunismo continua a ser muito mais forte do que a que protege o nazismo.

A expropriação é a primeira medida do poder comunista. Ela procede da definição do comunismo de que o mal social tem raízes na propriedade privada. A dos “meios de produção” é então imediata. Mas, como é preciso arrancar do povo a idéia de propriedade e submetê-lo completamente ao novo poder, a expropriação de casas, contas bancárias, terra, gado é uma conseqüência lógica. Aos poucos, as pessoas foram ficando apenas com pouco mais que suas roupas e móveis. 
Sempre houve ricos nos países comunistas, mas sem que se possa dizer que fossem proprietários. Eles eram ou proprietários “ilegais” de bens escassos, ou privilegiados que, em recompensa de uma fidelidade política e em virtude de sua posição no sistema, gozavam de certas vantagens. O direito, estando ligado à propriedade privada, desaparece subitamente: só restam decisões “jurídicas” do partido. Na Alemanha nazista, a expropriação e a proscrição só afetaram inicialmente os judeus. O direito e a propriedade subsistiram para os “arianos”, mas espremidos, residuais e destinados a desaparecer na lógica do sistema. 

A fome, diferentemente da penúria, que é constante, é um espectro reiterado que acompanha a história dos regimes comunistas. Ela está presente na URSS, na China, na Etiópia, na Coréia. A fome é, na maior parte do tempo, uma conseqüência da política comunista. É da essência dessa política estender seu controle à totalidade de seus súditos. Não é tolerável deixar os camponeses se organizarem espontaneamente à margem do poder. Ao expropriá-los, fazendo-os entrar nos quadros artificiais do kolkoz, da Comuna Popular, provoca-se inevitavelmente uma crise de subsistência. Não se pode, no entanto, dizer que o poder deseja a fome como tal, mas é o preço que ele aceita pagar para atingir seus objetivos políticos e ideológicos. No Cazaquistão, a população caiu pela metade. Entretanto, houve casos em que a fome foi desejada e organizada com um fim preciso de extermínio. Foi o que aconteceu na Ucrânia, durante os anos 1932-1933. O objetivo era o de terminar não com uma resistência qualquer do campesinato, porque a coletivização já a quebrara, mas com a existência nacional do povo ucraniano. Falou-se a esse respeito e, com razão, de genocídio. 

Consentida como meio ou desejada como fim, a fome foi o procedimento mais mortífero da destruição comunista das pessoas. Ela responde por mais da metade dos mortos imputáveis ao sistema na URSS, e por três quartos, talvez, na China

Essa ilusão se dissipa caso se queira olhar bem o genuíno funcionamento intelectual dos dirigentes nazistas e comunistas. Ele é inteiramente dominado por um sistema de interpretação do mundo de uma extraordinária indigência. Um combate dualista é levado adiante entre classes ou raças. A definição dessas classes ou dessas raças só tem sentido no e pelo sistema, se bem que o que pode ter objetivo na noção de classe ou de raça perde-se de vista. Essas noções loucas explicam a natureza do combate, justificam-no, guiam-no no espírito da ideologia a ação dos adversários e dos aliados. Pode haver ardis e astúcias nos meios utilizados para atingir o fim e, de fato, o comunismo com Lenin, Stalin, Mao Ho Chi Minh beneficiou-se de atores mais competentes do que Hitler: a lógica do conjunto do sistema permanece absurda; seu fim, inatingível. O estado psíquico do militante distingue-se pelo investimento fanático no sistema. A visão central reorganiza todo o campo intelectual e perceptivo, até na periferia. A linguagem transforma-se. Ela não serve mais para comunicar ou expressar, e sim para mascarar a solução de continuidade entre o sistema e a realidade. Assume o papel mágico de sujeitar a realidade à visão do mundo; é uma linguagem litúrgica, em que cada fórmula indica a adesão do locutor ao sistema e intimida o interlocutor a aderir. As palavras reveIadoras são, então, ameaças e figuras de um poder. 

Não se pode permanecer inteligente sob a ideologia. O nazismo seduziu alguns grandes espíritos: Heidegger, Carl Schmitt. Isso porque eles projetavam sobre o nazismo pensamentos próprios que lhe eram estranhos, um anti-modernismo profundo, um antidemocratismo profundo, um nacionalismo transformado em metafísica, tudo que o nazismo parecia ter assumido, salvo o que produzia seu valor na vida intelectual desses filósofos, o pensamento, a profundidade, a metafísica. Eles também cediam à ilusão da genealogia. 

O marxismo-leninismo só recrutou espíritos de segundo escalão, um Lukács, por exemplo: eles não tardaram a perder seu talento. Os partidos comunistas podiam se vangloriar de contar com adesões ilustres - Aragon, Brecht, Picasso, Langevin, Neruda: eles tinham o cuidado de mantê-los à margem para isolá-los numa adesão de acaso, de humor, de interesse, de circunstância. Porém, apesar do caráter superficial dessa adesão, a pintura de Picasso (ver os Massacres da Coréia) e a poesia de Neruda e de Aragon não deixaram de sofrer os efeitos. Ela pode subsistir artisticamente em um registro de provocação. A adesão à ideologia dos espíritos superiores produz-se a favor de uma confluência aleatória de paixões diversas cuja natureza é externa à ideologia. Mas, aproximando- se de seu cerne, tais paixões se debilitam, não restando às vezes senão um resíduo de inépcia. 

O homem nazista e comunista oferece-se ao exame clínico do psiquiatra. Ele parece fechado, desligado do real, capaz de argumentar indefinidamente em círculo com seu interlocutor, obscurecido, persuadido, no entanto, de ser racional. É por isso que os psiquiatras associaram esse estado de delírio crônico sistematizado à esquizofrenia, à paranóia. Se nos aprofundamos no exame, vemos que esta caracterização permanece metafórica. O sinal mais evidente de esta loucura ser artificial é que ela é reversível: quando a pressão cessa e as circunstâncias mudam, nós saímos dela imediatamente, como de um sonho. Mas é um sonho desperto, que não bloqueia a motricidade e mantém uma certa coerência de caráter racional. Fora da zona atingida, que, no homem sadio, é a parte superior do espírito, aquela que elabora a religião, a filosofia, as “idéias diretrizes da razão”, diria Kant, as funções do entendimento parecem intactas, mas polarizadas e sujeitas ao lado delirante. De tal modo que, quando despertamos, a cabeça está vazia, a aprendizagem da vida e do saber deve ser completamente retomada. A Alemanha, que tinha sido a Atenas da Europa durante um século, despertou embrutecida por doze anos de nazismo. O que dizer da Rússia, bem mais sistematicamente submetida durante setenta anos à pedagogia do absurdo, e cujas bases intelectuais eram menos estabelecidas e mais frágeis? 

Essas doenças mentais artificiais são também epidêmicas e contagiosas. Elas foram comparadas à difusão repentina da peste ou da gripe. Formalmente, a nazificação da Alemanha, em 1933, e a Revolução Cultural chinesa desenvolveram-se de fato como uma espécie de doença contagiosa. Esperando sabermos mais sobre essas pandemias psíquicas, atribuamos a essas comparações um valor simplesmente metafórico. 

A inépcia é o cenário de fundo da destruição moral. Ela é sua condição. O desajustamento moral da consciência natural e comum só pode existir se a concepção do mundo, a relação com a realidade, forem previamente perturbadas. Se essa cegueira é uma circunstância atenuante ou se ela é uma parte integrante do mal, eu não discutirei aqui. Ela não suspende o julgamento moral.

O que assinala a nossos olhos o demoníaco é que estes atos foram realizados em nome de um bem, sob a cobertura de uma moral. A destruição moral tem como instrumento uma falsificação do bem tal que o criminoso, em uma medida impossível de precisar, possa manter a distância a consciência de que pratica o mal. 

O homem novo é aquele que faz sua a nova moral de dedicação absoluta aos fins, que se dedica a expulsar de si mesmo os restos da velha moral, aquela que os “inimigos de classe” propagam para perpetuar o seu domínio. Lenin canonizou a ética comunista, e Trotski escreveu um pequeno livro cujo título já diz tudo: A moral deles e a nossa. 

O fato assustador é que essa ruptura moral não é percebida por todos de fora desse meio revolucionário. De fato, para descrever a nova moral, o comunismo serve-se de palavras da velha: justiça, igualdade, liberdade... E fato que o mundo que ele se apresta a destruir está repleto de injustiça e de opressão. Os homens de bem não podem deixar de aceitar que os comunistas denunciam esses males com extremo vigor. Eles concordam que a justiça distributiva não é respeitada. Guiando-se pela idéia de justiça, o homem de bem busca promover uma melhor distribuição das riquezas. Para o comunista, a idéia de justiça não consiste numa divisão “justa”, e sim no estabelecimento do socialismo, na supressão da propriedade privada, anulando assim todo tipo de divisão, a própria divisão e, enfim, o direito das partes. Os comunistas dedicam-se a fazer nascer a consciência da desigualdade.

Eu chamo de moral natural ou comum aquela à qual se referem os sábios da Antiguidade, e também os da China, da índia ou da África. No mundo constituído pela Bíblia, essa moral é resumida na segunda tábua dos mandamentos de Moisés. A ética comunista opõe-se a ela de forma frontal e muito consciente. Ela se propõe a destruir a propriedade e, com ela, o direito e a liberdade que se vinculam a ela, e reformar a ordem familiar. Ela se dá o direito de todos os meios de mentira e de violência para derrubar a velha ordem e fazer surgir a nova. Ela transgride abertamente, em seu princípio, o quinto mandamento (“honrarás pai e mãe”), o sexto (“não matarás”), o sétimo (“não cometerás adultério”), o oitavo (“não roubarás”), o nono (“não darás falso testemunho contra teu próximo”) e o décimo (“não cobiçarás a mulher do próximo”). Não é absolutamente necessário crer na revelação bíblica para aceitar o espírito desses preceitos.

O comunismo concebe um outro universo e vincula a ele sua moral. É por isso que ele recusa não só os preceitos, mas também seu fundamento, o mundo natural. Dizíamos que a moral comunista baseia-se na natureza e na história; é falso. Baseia-se numa supernatureza que não existe e numa História sem verdade.

“O regime soviético”, escreveu Raymond Aron, em Democracia e totalitarismo,2 “originou-se de uma vontade revolucionária inspirada em um ideal humanitário. O objetivo era o de criar o regime mais humano que a História já tivesse conhecido, o primeiro regime em que todos os homens poderiam ter acesso à humanidade, em que as classes teriam desaparecido, em que a homogeneidade da sociedade permitiria o reconhecimento recíproco dos cidadãos. Mas esse movimento tendeu para um fim absoluto, não hesitando diante de qualquer meio, porque, segundo a doutrina, apenas a violência poderia criar essa sociedade absolutamente boa, e o proletariado estava engajado numa guerra impiedosa contra o capitalismo. Dessa combinação entre um fim último e uma técnica impiedosa surgiram as diferentes fases do regime soviético.” 

Não é o proletariado que faz a guerra ao capitalismo, é a seita ideológica que fala e age em seu nome. Enfim, o capitalismo só existe por oposição a um socialismo não existente senão na ideologia, e, em conseqüência, o conceito de capitalismo é inadequado para descrever a realidade que deve ser derrubada. O objetivo não é sublime: ele assume as cores do sublime. O meio, que é matar, se toma o único fim possível.

No centro se encontra o partido, e, no partido, seu círculo dirigente. Nos primeiros tempos do poder, ele ainda está sob o domínio total da ideologia. Nesse momento é que ele se dedica a eliminar “o inimigo de classe”. Em uma intoxicação absoluta da consciência moral, ele destrói em nome da utopia categorias inteiras de pessoas. Uma olhada retrospectiva mostra que, nos casos russo, coreano, chinês, romeno, polonês, cambojano, esta sangria inicial foi uma das mais importantes da história desses regimes: às vezes da ordem de 10% da população, ou até mais do que isso. Quando parece que o sonho utópico já não se realizará, que a dizimação propiciatória não serviu para nada, observa- se um deslizamento da utopia para a simples conservação do poder. O inimigo objetivo estando já exterminado, é preciso cuidado para que não se reconstitua, até mesmo para que não reapareça nas fileiras do próprio partido. É o momento de um segundo terror, que parece absurdo porque não responde a uma resistência social e política, e visa a um controle total de todos os homens e de todos os pensamentos. O medo então se torna universal, ele se alastra no próprio partido, onde cada membro se sente ameaçado. Todo mundo denuncia todo mundo; todo mundo trai em cadeia. 

Depois vem o terceiro estágio, o partido previne-se contra o expurgo permanente. Ele se contenta com uma gestão rotineira do poder e de sua segurança. Ele não crê mais na ideologia, mas continua a falar sua linguagem, e cuida para que essa linguagem, que ele sabe que é mentirosa, seja a única falada, pois ela é o sinal de sua dominação. Ele acumula os privilégios e as vantagens; transforma-se em casta. 

Ele entra em uma corrupção generalizada. Entre o povo, não se comparam mais seus membros a lobos, mas a porcos. A periferia é constituída pelo restante da população. Na sua totalidade, de fato, esta é imediatamente convocada e mobilizada para a construção do socialismo. Ainda na sua totalidade ela sofre a ameaça, ela está exposta à mentira, ela é solicitada a participar do crime. 

Ela está, antes de tudo, fechada. Todo governo comunista fecha as fronteiras, esse é um de seus primeiros atos. Os nazistas, até 1939, autorizavam as partidas, a troco de resgate. A “pureza” da Alemanha ganhava com isso. Mas jamais os comunistas. Eles têm necessidade do fechamento absoluto das fronteiras para proteger o segredo de suas matanças, de seu fracasso; mas, sobretudo, porque o país supostamente se tomou uma vasta escola em que todos devem receber a educação que extirpará o espírito do capitalismo e filtrará, em seu lugar, o espírito socialista. O segundo passo é controlar a informação. A população não deve saber o que se passa fora do campo socialista. Ela não deve tampouco saber o que se passa dentro. Ela não deve conhecer seu passado. Ela não deve conhecer seu presente: somente seu futuro radioso. 

O terceiro é substituir a realidade por uma pseudo-realidade. Todo um corpo especializado no falso produz falsos jornalistas, falsos historiadores, uma falsa literatura, uma falsa arte que finge refletir fotograficamente uma realidade fictícia. Uma falsa economia produz estatísticas imaginárias. Acontece às vezes que as necessidades da cenografia chegam à adoção de medidas de estilo nazista. Assim, na URSS, os mutilados de guerra e do trabalho eram afastados da vista do público, transportados para asilos longínquos onde eles não chamavam mais atenção. Na Coréia, recordemos, são os anões, cuja “raça” deve desaparecer, que são deportados e impedidos de procriar. A construção dessa cenografia ocupa milhões de homens. Para que serve isso? Para provar que o socialismo não só é possível, mas que se constrói, se afirma, mais do que isso, que já está realizado: que existe uma sociedade nova, livre, auto- regulamentada, em que crescem os “homens novos” que pensam e agem espontaneamente conforme os cânones da realidade-ficção. O instrumento mais poderoso do poder é a confecção de um novo idioma em que as palavras assumem um sentido diferente do habitual. Sua elocução, seu vocabulário especial lhe dão o valor de uma linguagem litúrgica: ela denota a transcendência do socialismo. Ela assinala a onipotência do partido. Seu emprego pelo povo é a marca imediatamente visível de sua servidão. 

No começo, uma parte importante da população recebe de boa-fé a pedagogia da mentira. Ela entra na nova moral com seu patrimônio moral antigo. Ela ama os dirigentes que lhe prometem a felicidade, ela crê que é feliz. Ela pensa viver na justiça. Ela detesta os inimigos do socialismo, ela os denuncia, aprova que eles sejam expropriados, que sejam mortos. Ela apóia seu extermínio com dureza. Ela participa do crime sem se dar conta. Ao mesmo tempo, ela se embrutece por ignorância, desinformação, raciocínios falsos. Ela perde suas referências intelectuais e suas referências morais.

A incapacidade de distinguir o comunismo do ideal moral comum faz com que, quando seu sentimento de justiça é ferido, ela atribua o abuso ao inimigo externo. Até a queda do comunismo, na Rússia, era freqüente os homens que sofriam maus-tratos pelos policiais ou pelos militantes os tratarem de “fascistas”. Não passava chamar-lhes por seu verdadeiro nome – comunistas. 

E a vida, na cenografia socialista, em vez de se tornar “mais alegre, mais feliz”, como dizia Stalin, enfaticamente, em pleno “grande expurgo”, se torna mais sinistra, mais lúgubre. O medo invade tudo e é preciso sobreviver. O aviltamento moral, até ali inconsciente, penetra na consciência. O povo socialista, que fazia o mal acreditando que fazia o bem, sabe agora que o faz. Ele denuncia, rouba, se humilha, se toma mau, covarde e tem vergonha. O regime comunista não esconde seus crimes, como fez o nazismo; ele os proclama, convida a população a se associar a eles. Cada condenação é seguida de uma reunião de aprovação. O acusado é publicamente renegado por seus camaradas, sua mulher, seus filhos. Estes se unem à cerimônia por medo, por interesse. O stakhanovismo entusiasta dos primeiros tempos - se ele chegou a existir foi apenas como elemento cenográfico - é revelado no Homo sovieticus como um indolente, servil, imbecil. As mulheres sentem horror pelos homens. As crianças por seus pais, e sentem que se tomam aos poucos como eles. 

O último estágio nos é descrito pelos escritores do fim do sovietismo, Erofeev, Zinoviev. Os sentimentos mais difundidos são o desespero e a repugnância de si mesmo. Resta aproveitar-se dos prazeres específicos que esse regime proporciona: a irresponsabilidade, a preguiça, a passividade vegetativa. Não vale mais a pena praticar o duplo pensamento, procura-se na verdade não pensar em nada. As pessoas se fecham sobre si mesmas. O sentimentalismo choroso, a self-pity são uma maneira, como fazem os bêbados, de tomar os outros testemunhas de sua degradação.

Em seguida, porque a confusão permanece insuperável entre a moral comum e a moral comunista, esta se escondendo atrás daquela, tomando-se parasita dela, gangrenando-a, fazendo dela o instrumento de seu contágio. Um exemplo recente: nas discussões que se seguiram à publicação do Livro Negro, um editorialista do L'Humanité declarou à televisão que os oitenta milhões de mortos não manchavam em nada o ideal comunista. Eles representavam apenas um lamentável desvio. 

Depois de Auschwitz, continuou ele, não se pode ser mais nazista; mas depois dos campos soviéticos, pode-se continuar sendo comunista. Esse homem que falava com consciência não se dava de forma alguma conta de que ele acabava de formular sua mais fatal condenação. Ele não percebia que a idéia comunista tinha pervertido de tal forma o princípio de realidade e o princípio moral, que ela não poderia de fato sobreviver a oitenta milhões de cadáveres, ao passo que a idéia nazista tinha sucumbido sob os seus. Acreditando falar como um homem muito honesto, idealista e intransigente, ele tinha pronunciado uma palavra monstruosa.

O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência.

Antes de tomar o poder e, para tomá-lo, os partidos comunistas e os nazistas utilizam todos os meios da política. Eles se instalam no jogo político, apesar de eles mesmos, segundo seus próprios critérios e sua disciplina interna, se colocarem fora do jogo. Por exemplo, quando o partido bolchevique reivindica a terra para os camponeses e a paz imediata, não é para se contentar com o êxito dessas duas reivindicações. Trata-se de colocar os camponeses e os soldados do seu lado a fim de lançar o processo revolucionário. Feita a revolução, a terra é expropriada dos camponeses e a guerra está ativamente preparada sem que o partido veja nisso a menor contradição. Nenhuma ação termina no objetivo que ela atinge. Ela é englobada em um movimento indefinido e só existe para propiciar uma outra ação situada para além do limite proclamado. 

Uma vez no poder, a política do partido fica mais do que nunca voltada para a destruição do político. As formas orgânicas da vida social, a família (se o poder tem a força para isso, mas ela resiste por todos os lados, não sem se desgastar e se degradar), as classes, os grupos de interesse, os corpos constituídos são suprimidos. As pessoas, a partir de agora privadas de todo direito de associação, de agregação espontânea, de representação, reduzidas à condição de átomos, são colocadas num novo enquadramento. Este enquadramento se modela sobre aquele que deveria existir se o socialismo existisse como sociedade. Ele assume então o nome de sovietes, de uniões, de comunas. 

Como o socialismo só existe virtualmente, esse enquadramento só existe como coação. E a oportunidade política que decide se os novos quadros devem expressar por seu nome o socialismo virtual ou, bem se lhe convém, deixar-lhes seu antigo nome para fazer crer que o velho mundo ainda é, de alguma maneira, atual: lhes darão o nome de sindicatos, de academias, de parlamentos, de cooperativas, a homonímia podendo ser “explorada politicamente”. Quantas delegações de parlamentares ou prefeituras ocidentais são assim enganadas porque acreditam ter sido recebidas por parlamentares e vereadores, e não por funcionários do partido que tinham se apropriado desses nomes!

Os dois regimes se referem a um passado mítico sobre o qual se modela um futuro imaginário. Antigamente, houve o tempo dos arianos, os melhores segundo a natureza: amanhã os germanos reinarão novamente e, sobre eles, os mais puros. O comunismo insiste menos na restauração do passado - a comuna primitiva - do que sobre sua reprodução a um “nível superior”. É preciso então dar um espaço maior à velha noção de progresso, herdada do Iluminismo e dramatizada pelo Romantismo. A idéia de Marx, segundo as palavras de Raymond Aron, era ir de Rousseau a Rousseau, passando por Saint-Simon, isto é, pelo progresso técnico e industrial.

A tomada do poder por um partido comunista é preparada por uma luta puramente política no seio de uma sociedade normalmente política. E lá que ele treina nas táticas que coloca em prática depois da vitória do partido. Aquela, por exemplo, chamada “tática do salame”, que consiste em fazer alianças com forças políticas não-comunistas, de maneira que force o aliado a participar na eliminação dos adversários: primeiro, a “extrema direita”, com a ajuda de toda a esquerda; depois, a fração moderada dessa esquerda e, assim, sucessivamente, até a última “fatia”, que deve se submeter e “fundir-se” sob pena de ser, por sua vez, eliminada. Esse profissionalismo, que inclui a astúcia, a paciência, a racionalidade, quanto ao objetivo buscado, faz a superioridade do leninismo. Mas se trata apenas de destruição, e a construção é impossível porque esse objetivo é insensato. 

Tomado uma espécie de ditador, mas sem poder tomar consciência disso, Lenin continuava a pôr sobre suas situações mais instáveis suas categorias fantasmáticas e, em conseqüência, tomava suas decisões. A prática comunista não segue uma inspiração estética, mas procede a cada instante de uma deliberação “científica”. A falsa ciência copia da verdadeira seu caráter demonstrativo e seus procedimentos lógicos. E apenas toma mais louca a empresa, mais implacável a decisão e mais difícil a correção, pois a falsa ciência, que não é empírica, impede que se constatem os resultados da experiência. 

Pouco a pouco, a destruição se amplia e se toma total, igualando-se, para retomar a fórmula de Bakunin, à vontade de criação. Ela seguiu na Rússia seis etapas. Primeiro, a destruição do adversário político: órgãos do governo, da antiga administração. Isso se fez num piscar de olhos, logo em seguida ao putsch de outubro de 1917. Depois, a destruição das resistências sociais, reais ou potenciais: corpos organizados, partidos, exército, sindicatos, cooperativas; corpos culturais, universidade, escola, academia, igreja, editora, imprensa. 

No entanto, o partido se dá conta de que o socialismo nem sempre existiu como sociedade livre e auto-regulada, e que a coerção é, mais do que nunca, necessária para fazê-lo surgir. Mas a doutrina prevê que há apenas duas realidades - o socialismo e o capitalismo. É nesse momento, então, que a realidade se confunde com o capitalismo, e que é preciso, terceira etapa, destruir toda a realidade: a aldeia, a família, os restos da educação burguesa, a língua russa. É preciso estender o controle sobre cada indivíduo tornado solitário e desarmado pela destruição de seu sistema de vida, levá-lo para um novo sistema em que ele será reeducado, recondicionado. Eliminar, enfim, os inimigos escondidos. 

O fracasso da construção do socialismo no interior vem do ambiente externo hostil. Pela sua simples existência, ele é uma ameaça, quaisquer que sejam as cores desse espectro hostil: democracia burguesa, socialdemocracia, fascismo. E preciso, então, quarta etapa, criar em cada país organizações de tipo bolchevique (os partidos comunistas), com um organismo central para coordená-los e adaptá-los ao modelo central, o Komintem. Quando, valendo-se das circunstâncias, o comunismo pôde se estender, as novas zonas agregadas ao “campo socialista” conheceram etapas análogas de destruição. 

Porém, em toda a extensão do campo, o partido (pela voz de Stalin) constata que “o capitalismo está mais forte que nunca”. Ele se infiltra e se estende no próprio partido, que perde a sua virtude. Cabe então ao líder do partido, e apenas a ele, destruir o partido (quinta etapa), para recriar um outro com seus restos. Essa perigosa operação requer uma promoção do carisma do líder que o assemelha ao Führer nazista. Uma vez concentrado em sua pessoa o espírito da história, como o outro espírito da “raça”, ele pode se permitir, em um esplêndido isolamento e em uma relação “direta” com as massas, liquidar o seu carrasco coletivo. Stalin fez isso uma vez, não sem imitar Hitler e a sua “noite dos longos punhais”. Ele se preparava para fazê-lo uma segunda vez (e também deportar o conjunto dos judeus) quando a morte o surpreendeu. Mao Zedong fez duas vezes, no momento do “grande salto para a frente” e, depois, mais nitidamente ainda, na Revolução Cultural. Usura e autodestruição.

Na lógica pura dos dois sistemas levada ao limite está contido o extermínio de toda a população da Terra. Mas essa lógica não se aplica e não pode se aplicar até o fim. 

O princípio do comunismo é o de subordinar tudo à tomada e conservação do poder, pois é ao poder que cabe a responsabilidade de realizar o projeto. Para conservar o poder, é preciso poupar o que é necessário à subsistência.

As táticas colocadas em prática em tempos dramáticos só servem para isso. Brejnev apodrece lentamente na direção máxima. O partido se corrompe: ele não se dedica mais aos objetivos do comunismo, mas quer usufruir do poder e desfrutar das riquezas. Éle sai da irrealidade e entra na realidade devastada por sua ação, onde só encontra, em abundância, mercadorias vulgares, que nem a arte consegue embelezar, como a vodca, as datchas e as grandes limusines. Quanto ao povo, este se atola na porção da realidade que lhe foi sempre concedida, se vira como pode, se desinteressa de um regime que não lhe oferece mais a consolação da queda dos poderosos e a oportunidade de substituí-los. A degradação geral chega a um limite. 

Quando um piparote aleatório faz desabar o castelo de cartas, que poderia ter desabado muito antes ou muito depois, descobre-se uma paisagem pós-comunista: mafiosa e semi- indolente, esgotada em sua energia, até para se recordar.

Apenas uma pequena minoria acredita hoje na existência dos mandamentos divinos. Se ela ainda acredita nisso - como acreditavam muitos judeus e cristãos que mais tarde se tornaram - deveria ver no primeiro piscar de olhos a contradição entre o progresso de que o homem assume a direção e a lição bíblica. O conceito de progresso, entendido no sentido de uma transformação em profundidade do ser humano, sob a ação da história ou de uma vontade político-histórica, não pode ser aceito, pois ele faz depender da ação política uma transformação que, segundo a Bíblia, só se deve a uma graça divina. Quando o que só é possível pela ação divina se toma o objetivo da ação humana, esta visa realizar o impossível. 

A ação violenta contra a natureza fracassa e logo se transforma em destruição da natureza e, com ela, do humano. Pelágio pensava que, numa certa medida, o homem poderia salvar a si próprio, pela força de vontade e de ascese. Santo Agostinho estimava que o pelagiano se oprimia sem com isso melhorar. Assim fazia o “herói positivo” da lenda bolchevique.

 De fato, ele piorava, pois o pelagiano pensava atingir a virtude, no sentido comum do termo, e o herói positivo uma virtude definida pela ideologia, isto é, um vício. Além disso, o velho pelagiano não visava, da mesma forma que a filosofia antiga, senão a um progresso individual. O novo é coletivizado. A transferência ao poder político da idéia pelagiana é mais destruidora, pois é o outro, enfim, são todos os outros, que serão corrigidos pela educação, se necessário pela reeducação, em um muro cercado por arame farpado.

Biblismo” comunista 

Se o nazismo oferece uma farsa do Antigo Testamento, o comunismo oferece ao mesmo tempo a do Antigo e do Novo. A perversa imitatio do judaísmo e do cristianismo, que faz parte do seu “charme”, é um fato tão reconhecido que bastam algumas palavras para caracterizá-lo. Esta ideologia propõe um mediador e um redentor. O “proletariado”, o “explorado”.

O nazismo se concentrou na versão marcionita do gnosticismo. Ele aceitou formal e provisoriamente um outro Deus diferente do de Abraão. Ele perseguiu os cristãos fiéis. Ele tratou de se enriquecer com elementos tomados do esoterismo e do ocultismo do final do século. Ele quis despertar o neopaganismo dos velhos deuses alemães, fazendo assim injúrias por essa outra contrafação ao que a mitologia alemã tinha de honroso, de belo e de comum com aquela de Homero. Nos dois sistemas de salvação, comunista e nazista, é difícil distinguir, no ódio que confunde judeus e cristãos, se os primeiros são detestados por estarem na origem dos segundos ou os segundos por serem os filhos dos primeiros. Qualquer que seja a ordem seguida, a perseguição atinge um depois do outro. 

A terceira heresia é o milenarismo. Em seus efeitos históricos, ele conflui com o messianismo. Ele é uma expectativa de mudança radical no interior da história. O messianismo bíblico espera o advento de uma figura real capaz de restaurar uma aliança de paz em Israel e nas Nações. O milenarismo primitivo cristão acreditava que Cristo retornaria à Terra para reinar gloriosamente mil anos com os justos ressuscitados. Essas doutrinas sofreram no século XX derivações seculares. Foi assim que a idéia messiânica contaminou as formas mais extremas do nacionalismo: o povo alemão, o povo russo, tinham esperanças da redenção final da história humana.

 O milenarismo é uma impaciência de fazer advir o Reino de Deus e uma vontade de tomar em suas mãos esse acontecimento. Ele pode ser compreendido como um tipo de pelagianismo paroxístico, coletivizado e politizado. A história moderna é abalada por essas crises heróicas: os taboritas da Boêmia, os anabatistas de Münster, a ala extremista da revolução inglesa, Sabbatai Zvi. Elas são mais sangrentas quando, livres da idéia de Deus, visam à instauração de um regnum hominis. É raro que, valendo-se dessas crises, a separação entre judeus e cristãos não seja envenenada por aqueles mesmos que atacavam suas respectivas religiões, das quais não subsiste mais nenhum sinal senão o ódio recíproco.

O comunismo cresceu graças a uma maciça apostasia dos cristãos. Não é certo que esta apostasia, e menos ainda os compromissos e as cumplicidades de gravidade variável, sejam considerados como verdadeiros culpados. Eles são, em geral, considerados pecados venais e freqüentemente louváveis pelas intenções generosas. A razão simples é que os cristãos não foram ainda totalmente purgados das idéias comunistas misturadas no seu espírito com as idéias humanitárias e introduzidas por estas últimas entre os fiéis e no clero. Sob formas dissimuladas e inconscientes, através das tendências heréticas já citadas, elas são sempre ativas. Mesmo atualmente ouve-se falar de uma “terceira via” entre capitalismo e socialismo. E porque não se tomou ainda consciência de que subsumar nosso mundo sob o conceito de “capitalismo” significa que já se entrou no mundo dicotômico da ideologia, da qual, no entanto, se crê estar muito distante. A sobrevivência desses hábitos de pensamento é uma razão a mais para o esquecimento. De fato, não se sabe ainda claramente qual parte do mundo cristão seria necessário recordar. 

O nazismo chacinou muitos cristãos: só na Polônia, três milhões, tantos quantos os judeus. Ele estava determinado a aniquilar a Igreja rapidamente. No entanto, a realidade é que a memória cristã do nazismo não se concentrou no massacre geral nem nas perseguições à Igreja, mas muito especificamente na sorte dos judeus e na responsabilidade das Igrejas no conjunto dos acontecimentos referentes à solução final. Profundamente atacada nesse ponto, a Igreja católica fez valer seus argumentos. O padre Blet, S. J., historiador cuja competência é notória e reconhecida por seus pares, reuniu- os recentemente em uma obra documentada sobre os arquivos do Vaticano5: de todos os corpos constituídos subjugados pelo nazismo, afirma ele, a Igreja foi o que salvou mais judeus. O padre Blet avalia seu número em 800 mil. A encíclica Mit Brennender Sorge (março de 1937) condena expressamente o racismo e as diversas idolatrias da raça, do sangue, da nação. O silêncio6 de que é acusado Pio XII pode ser explicado pela prudência e pela preocupação por uma eficácia máxima; por exemplo, para não suscitar reações nazistas ainda mais mortíferas, como tinha acontecido nos Países Baixos quando os bispos tinham elevado a voz em protesto; salvar um circuito eclesiástico e um esquema diplomático que permitiria agir debilmente na Alemanha, com base na concordata, e mais fortemente nos países satélites mas que não tinham ainda sido ocupados, como a Hungria ou a Eslováquia; não enfraquecer sistematicamente a Alemanha face à ameaça soviética, que o Papa considerava, com razão, como mais perigosa ainda a longo prazo para a humanidade.

Há nisso uma regra geral. Quando estamos diante de um regime ideológico, a primeira coisa a fazer e a linha que se deve ter absolutamente até o fim é a de recusar, sem discussão, a descrição da realidade que ele propõe. Se colocamos o dedo na engrenagem e nos recordamos que há nesta descrição uma “parte de verdade”, se aceitamos, por exemplo, que existem arianos e não-arianos e, então, que existe um “problema judeu”, estamos perdidos e a vontade só obedece a uma inteligência falseada. Só resta suplicar aos “arianos” para que resolvam “humanamente” esse “problema”. Na ideologia, a “parte de verdade” que concentra o poder de sedução é o próprio centro da falsificação e o que há de mais falso. A regra vale para toda ideologia e, particularmente, para a ideologia comunista. Desde o momento que se admitia uma descrição da realidade tal como ela era dividida entre o socialismo e o capitalismo, nada mais restava senão suplicar simetricamente aos dois “campos” para obedecerem aos princípios gerais da moral, prestes a reconhecer ao primeiro uma superioridade de princípio por ter acabado com a “exploração”.

Existe atualmente um acordo bastante geral, pelo menos entre os membros do Instituto, sobre o grau de conaturalidade entre o comunismo de tipo bolchevique e o nacional-socialismo. A meu ver, é correta a expressão de Pierre Chaunu: gêmeos heterozigotos. Essas duas ideologias tomaram o poder no século XX. Elas têm como objetivo chegar a uma sociedade perfeita extirpando o princípio maligno que a bloqueia. Em um caso, o princípio maligno é a propriedade, então os proprietários, e depois, como o mal subsiste após a “liquidação enquanto classe” destes, a totalidade dos seres humanos, corrompidos pelo espírito do “capitalismo”, que resulta em penetrar até no próprio partido. No outro caso, o princípio maligno está situado nas raças chamadas “inferiores”, em primeiro lugar os judeus, depois, o mal continuando a subsistir após o seu extermínio, é preciso persegui-lo nas outras raças e na própria “raça ariana”, cuja “pureza” foi maculada. Comunismo e nazismo invocam para a sua legitimidade a autoridade da ciência. Eles se propõem reeducar a humanidade e criar um homem novo.

Essas duas ideologias se pretendem filantrópicas. O nacional- socialismo quer o bem do povo alemão e declara prestar serviço à humanidade ao exterminar os judeus. O comunismo leninista quer diretamente o bem de toda a humanidade. O universalismo do comunismo lhe dá uma imensa vantagem sobre o nazismo, cujo  programa não é exportável. As duas doutrinas propõem “ideais elevados”, próprios para suscitar o devotamento entusiástico e atos heróicos. No entanto, elas ditam também o direito e o dever de matar. Citando Chateaubriand, profético neste caso: “No fundo desses diversos sistemas repousa um remédio heróico confesso ou subentendido: esse remédio é matar.” E Hugo: “Você pode matar este homem com tranqüilidade.” Ou categorias inteiras de homens. Justamente o que essas doutrinas fizeram quando chegaram ao poder, em uma escala desconhecida na história. E por essa razão que, aos olhos dos que são estranhos ao sistema, nazismo e comunismo são criminosos. Igualmente criminosos? Por ter estudado um e outro, conhecendo também os auges em intensidade no crime do nazismo (a câmara de gás) e em extensão do comunismo (mais de 60 milhões de mortos), o gênero de perversão das almas e dos espíritos operado por um e por outro, creio que não se pode entrar nessa discussão perigosa, que é preciso ser respondida simples e firmemente: sim, igualmente criminosos.

Uma das características do século XX é a de que não só a história foi horrível, do ponto de vista do massacre do homem pelo homem, mas também que a consciência histórica - e isto explica aquilo - teve uma dificuldade particular em se orientar corretamente. Orwell observava que muitos haviam se tomado nazistas por um horror motivado do bolchevismo, e comunistas por um horror motivado do nazismo. Isso realça o perigo das falsificações históricas. Vemos uma em vias de formação, e seria uma pena que legássemos ao próximo século uma história falseada. Para concluir, uma esperança e um receio. Foram necessários anos para se tomar consciência completa do nazismo, porque ele excedia o que se julgava possível e que a imaginação humana era incapaz de percebê-lo. Poderia acontecer o mesmo com o comunismo de tipo bolchevique, cujas obras abriram um abismo tão profundo, e que foram protegidas, como Auschwitz o foi até 1945, pelo inverossímil, pelo incrível, pelo impensável. O tempo, cuja função é revelar a verdade, fará talvez, lá também, o seu trabalho.








quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

PONEROLOGIA TRECHOS

                                           
    




“TRÊS PRINCIPAIS ITENS HETEROGÊNEOS COINCIDIRAM para formar a civilização européia: a Filosofia Grega, o direito do Império Romano e o Cristianismo, que foram consolidados pelo tempo e pelos esforços das gerações posteriores”

“Esta civilização foi insuficientemente resistente ao mal, o qual se origina além das áreas da consciência humana facilmente acessíveis e que tira vantagem da enorme lacuna entre o pensamento formal ou legal e a realidade psicológica. Em uma civilização deficiente no conhecimento psicológico, indivíduos hiperativos direcionados pelas suas dúvidas internas, que são causadas por uma sensação de ser diferente, encontram facilmente um eco pronto nas consciências pouco desenvolvidas de outras pessoas. Tais indivíduos sonham em impor seu poder e seus diferentes modos de experimentar sobre seus ambientes e sua sociedade. Infelizmente, em uma sociedade ignorante psicologicamente, seus sonhos têm uma boa chance de se tornar realidade para eles e um pesadelo para os outros”

“Para entender o funcionamento de um organismo, a medicina começa com a citologia, que estuda as diversas estruturas e funções das células. Se queremos entender as leis que governam a vida social, nós devemos, de forma similar, primeiro entender o ser humano individual, sua natureza fisiológica e psicológica, e aceitar totalmente a qualidade e a perspectiva das diferenças (particularmente as psicológicas) entre os indivíduos que constituem os dois sexos, as diferentes famílias, associações e grupos sociais, bem como a estrutura complexa da sociedade mesma.”

“Nossas faculdades racionais continuam a se desenvolver ao longo de toda a nossa vida ativa; assim, as habilidades de julgamento apurado não surgem até que nossos cabelos comecem a ficar grisalhos e o impulso do instinto, emoção e hábito comece a se acalmar. Trata-se de um produto coletivo derivado de uma interação entre o homem e o seu ambiente, do valor da criação e da transmissão de muitas gerações. O ambiente também pode ter uma influência destrutiva sobre o desenvolvimento de nossas faculdades racionais. Neste ambiente em particular, a mente humana é contaminada pelo pensamento conversivo,[ 19 ] que é a anomalia mais comum nesse processo. É por essa razão que o desenvolvimento apropriado da mente requer períodos de reflexão solitária de vez em quando.”

“Esta camada da nossa inteligência é amplamente distribuída dentro da sociedade; a maioria acachapante das pessoas a possui, e é por isso que podemos, tão freqüentemente, admirar a educação e a intuição nas relações sociais, e a moralidade sensível de pessoas que são dotadas de uma inteligência simplesmente mediana. Nós vemos também pessoas com uma inteligência surpreendente e que são desprovidas desses valores tão naturais. Assim como no caso das deficiências no substrato instintivo, os déficits nessa estrutura básica da nossa inteligência freqüentemente impõem funcionalidades que nós percebemos como patológicas.”

“Nossa experiência nos ensina que as diferenças psicológicas entre as pessoas são a causa dos mal-entendidos e problemas. Nós podemos superar estes problemas somente se aceitarmos as diferenças psicológicas como uma lei da natureza e valorizar seu valor criativo. Isso também nos possibilitaria alcançar uma compreensão objetiva do homem e das sociedades humanas; infelizmente, isso também nos ensinaria que a igualdade sob a lei é uma desigualdade sob a lei da natureza”

“De forma similar, é extremamente difícil para um psicólogo acreditar no valor de qualquer ideologia social baseada em premissas psicológicas simplificadas ou até mesmo ingênuas. Isso se aplica a qualquer ideologia que tente simplificar demais a realidade psicológica, seja ela utilizada por um sistema totalitário ou por, infelizmente, um sistema democrático. As pessoas são diferentes. Quaisquer coisas que sejam qualitativamente diferentes e que permaneçam em estado de permanente evolução não podem ser iguais.”

“Essas doutrinas e ideologias mostram suas falhas básicas, no tocante ao entendimento das personalidades humanas e das diferenças entre as pessoas, de maneira muito clara se observadas à luz da nossa linguagem natural dos conceitos psicológicos, e mais ainda à luz da linguagem objetiva”

“...a produtividade dessa pessoa não é melhor, e às vezes é até pior, que a do trabalhador com talentos satisfatórios. Tal indivíduo se sente então traído e inundado de dúvidas que podem impedi-lo de atingir a auto-realização. Seus pensamentos desviam-se das suas dúvidas para um mundo de fantasia, ou para assuntos que são de maior interesse para ele; no seu mundo de devaneios, ele é o que deveria e o que merece ser. Tal pessoa sempre sabe se o seu ajustamento social ou profissional tomou uma direção descendente; ao mesmo tempo, contudo, se ela falha em desenvolver uma capacidade crítica saudável em relação aos limites superiores de seus próprios talentos, seus devaneios podem “entender” uma visão de mundo injusto onde “tudo o que você necessita é poder”. As idéias revolucionárias e radicais encontram um solo fértil entre tais pessoas em adaptações sociais descendentes. É do melhor interesse da sociedade corrigir tais condições, não somente para melhorar a produtividade, mas para evitar tragédias.”

“Um componente histriônico aparece em sua conduta e os testes indicam que sua correção de raciocínio se deteriora progressivamente após alguns poucos anos dignos de tais atividades. Frente a pressões crescentes para executar as atividades em um nível inatingível para elas, e com medo de serem descobertas como incompetentes, começam a direcionar ataques contra qualquer um com talentos e habilidades melhores, removendo estas pessoas dos cargos devidos e desempenhando um papel ativo na degradação de seus ajustamentos profissionais e sociais. Isso, é claro, gera um sentimento de injustiça e pode levar a problemas do indivíduo que teve uma adaptação descendente, como descrito acima. Pessoas com um ajustamento ascendente favorecem, assim, os chicoteadores e os governos totalitários que protegem suas posições”

“Uma democracia composta de indivíduos de conhecimento psicológico inadequado só pode se degenerar”

“Os políticos deveriam também estar cientes de que, em toda sociedade, existem pessoas cuja inteligência básica, cuja visão de mundo psicológica natural e cujo raciocínio moral se desenvolveram de forma inapropriada. Algumas destas pessoas contêm as causas deste desenvolvimento inapropriado dentro de si mesmas, e outras foram sujeitas a pessoas psicologicamente anormais quando crianças. A compreensão das questões morais e sociais de tais indivíduos é diferente, tanto do ponto de vista natural como do objetivo; eles constituem um fator destrutivo para o desenvolvimento dos conceitos psicológicos, da estrutura social e das ligações internas de uma sociedade.”

“Estas pessoas e suas redes participam da gênese daquele mal que não poupa nenhuma nação. Esta subestrutura dá vida a sonhos de obtenção de poder e de imposição da vontade de uma pessoa sobre a sociedade, trazidos à realidade com freqüência em diversos países, durante épocas históricas”

“Todas estas dificuldades tornam-se extremamente destrutivas se um grupo social ou religioso, para manter sua doutrina, exige que sejam cedidas aos seus membros posições que estão, de fato, acima das verdadeiras capacidades dessas pessoas.”

“Os funcionários públicos são forçados a seguir regulamentos cegamente; o espaço para que eles utilizem sua razão humana para diferenciar as situações reais torna-se realmente muito estreito. Tais procedimentos comportamentais têm um impacto sobre a sociedade, que também passa a pensar em regulamentos em vez de pensar na realidade prática e psicológica. A visão de mundo psicológica, que constitui o fator básico para o desenvolvimento cultural e faz a vida social funcionar, torna-se portanto intrincada”


“Da mesma forma, o reflexo de supor que todo interlocutor está mentindo é uma indicação da anti-cultura histérica da mendacidade, na qual dizer a verdade torna-se “imoral”.

Essa era de regressão histérica deu origem à grande guerra e à grande revolução que se estendeu até o Fascismo, o Hitlerismo e a tragédia da Segunda Guerra Mundial. Ela também produziu o fenômeno macrossocial cujo desvio de caráter tornou-se sobreposto sobre este ciclo, filtrando e destruindo sua natureza”

“Tal estímulo libera sobre o interlocutor uma torrente de discursos pseudológicos, amplamente paramoralísticos, quase sempre ofensivos e que sempre contêm algum grau de sugestionamento. Discursos como esses inspiram a aversão entre pessoas lógicas e cultas, que tendem então a evitar os tipos paranóicos. Contudo, o poder dos paranóicos reside no fato de que eles escravizam facilmente as mentes menos críticas, como por exemplo as pessoas com outros tipos de deficiências psicológicas, que têm sido vítimas da influência egotística de indivíduos com distúrbios de caráter e, em particular, um grande segmento de pessoas jovens.”

“Em qualquer sociedade do mundo, indivíduos psicopatas e algum dos outros tipos irregulares criam uma rede comum de conluios, ponerogenicamente ativa, e parcialmente alienada da comunidade das pessoas normais. O papel inspiracional da psicopatia essencial, nessa rede, parece ser um fenômeno comum. Eles tomam ciência de que são diferentes conforme vão obtendo suas experiências de vida e se tornando familiares com modos diferentes de lutar por seus objetivos. Seu mundo é para sempre dividido entre “nós e eles”; entre seu pequeno mundo com suas leis e costumes próprios e aquele outro mundo estranho, das pessoas normais, as quais eles enxergam como cheias de idéias e costumes arrogantes pelos quais eles são condenados moralmente. Seu senso de honra os permite trapacear e insultar aquele outro mundo humano e seus valores a cada oportunidade. Em contradição aos costumes das pessoas normais, eles sentem que quebrar as suas promessas é um comportamento apropriado.”


“Uma das coisas mais perturbadoras que as pessoas normais têm que lidar em relação aos psicopatas é o fato de que eles aprendem, muito cedo, como suas personalidades podem ter efeitos traumatizantes sobre as personalidades daquelas outras pessoas normais, e como levar vantagem desse terror com o propósito de atingir os seus objetivos. Essa dicotomia de mundos é permanente e não desaparece, mesmo se eles forem bem sucedidos em realizar o seu sonho de juventude, ganhando poder sobre a sociedade das pessoas normais”



“No psicopata, um sonho emerge como um tipo de utopia de um mundo “feliz” e de um sistema social que não os rejeite, nem os force a se submeter a leis e costumes cujo significado é incompreensível para eles. Eles sonham com um mundo no qual seu modo simples e radical de experimentar e perceber a realidade fosse o modo dominante, onde eles poderiam, é lógico, garantir segurança e prosperidade. Nesse sonho utópico, eles imaginam que aqueles “outros”, diferentes, mas também tecnicamente mais habilidosos do que eles, deveriam ser colocados para trabalhar de forma a atingir esse objetivo para os psicopatas e outros do seu tipo. “Nós”, eles dizem, “afinal de contas, criaremos um novo governo, de justiça”

“Os indivíduos e as nações que estão capacitados para suportar a injustiça em nome de valores morais, podem encontrar mais facilmente uma saída para tais dificuldades, sem o uso de métodos violentos. Nesse sentido, uma tradição moral rica contém experiências e reflexões de séculos”



Trecho de: Lobaczewski, Andrew. “Ponerologia: Psicopatas No Poder.” VIDE Editorial. iBooks. 
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