segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

AS SEIS LIÇÕES LUDWIG VON MISSES







AS SEIS LIÇÕES 
LUDWIG VON MISSES
TRECHOS E FRAGMENTOS 



“Dentre aqueles párias, aqueles miseráveis, surgiram pessoas que tentaram organizar grupos para estabelecer pequenos negócios, capazes de produzir alguma coisa. Foi uma inovação. Esses inovadores não produziam artigos caros, acessíveis apenas às classes mais altas: produziam bens mais baratos, que pudessem satisfazer as necessidades de todos. E foi essa a origem do capitalismo tal como hoje funciona. Foi o começo da produção em massa -”

“Enquanto as antigas indústrias de beneficiamento funcionavam a serviço da gente abastada das cidades, existindo quase que exclusivamente para corresponder às demandas dessas classes privilegiadas, as novas indústrias capitalistas começaram a produzir artigos acessíveis a toda a população. Era a produção em massa, para satisfazer às necessidades das massas.”

“os empregados das grandes fábricas são, eles próprios, os maiores consumidores dos produtos que nelas se fabricam. Esta é a diferença básica entre os princípios capitalistas de produção e os princípios feudalistas de épocas anteriores.”

“O desenvolvimento do capitalismo consiste em que cada homem tem o direito de servir melhor e/ou mais barato o seu cliente. E, num tempo relativamente curto, esse método, esse princípio, transformou a face do mundo, possibilitando um crescimento sem precedentes da população mundial.”

“Assim, se um inglês - ou, no tocante a esta questão, qualquer homem de qualquer pais do mundo - afirmar hoje aos amigos ser contrário ao capitalismo, há uma esplêndida contestação a lhe fazer: "Sabe que a população deste planeta é hoje dez vezes maior que nos períodos precedentes ao capitalismo? Sabe que todos os homens usufruem hoje um padrão de vida mais elevado que o de seus ancestrais antes do advento do capitalismo? E como você pode ter certeza de que, se não fosse o capitalismo, você estaria integrando a décima parte da população sobrevivente? Sua mera existência é uma prova do êxito do capitalismo, seja qual for o valor que você atribua à própria vida.”

Não obstante todos os seus benefícios, o capitalismo foi furiosamente atacado e criticado. É preciso compreender a origem dessa aversão. É fato que o ódio ao capitalismo nasceu não entre o povo, não entre os próprios trabalhadores, mas em meio à aristocracia fundiária - a pequena nobreza da Inglaterra e da Europa continental. Culpavam o capitalismo por algo que não lhes era muito agradável: no início do século XIX, os salários mais altos pagos pelas indústrias aos seus trabalhadores forçaram a aristocracia agrária a pagar salários igualmente altos aos (7) seus trabalhadores agrícolas. A aristocracia atacava a indústria criticando o padrão de vida das massas trabalhadoras.”


“A velha história, repetida centenas de vezes, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que, antes de trabalharem nessas fábricas, viviam em condições satisfatórias, é um dos maiores embustes da história. As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar: não abandonavam seus lares e suas cozinhas para se dirigir às fábricas - corriam a elas porque não tinham cozinhas e, ainda que as tivessem, não tinham comida para nelas cozinharem. E as crianças não provinham de um ambiente confortável: estavam famintas, estavam morrendo. E todo o tão falado e indescritível horror do capitalismo primitivo pode ser refutado por uma única estatística: precisamente nesses anos de expansão do capitalismo na Inglaterra, no chamado período da Revolução Industrial inglesa, entre 1760 e 1830, a população do país dobrou, o que significa que centenas de milhares de crianças - que em outros tempos teriam morrido -sobreviveram e cresceram, tornando-se homens e mulheres.”

“Não há dúvida de que as condições gerais de vida em épocas anteriores eram muito insatisfatórias. Foi o comércio capitalista que as melhorou. Foram justamente aquelas primeiras fábricas que passaram a suprir, direta ou indiretamente, as necessidades de seus trabalhadores, através da exportação de manufaturados e da importação de alimentos e matérias-primas de outros países.

“Mas o fato é que todo consumidor tem de ganhar, de uma maneira ou de outra, o dinheiro que gasta, e a imensa maioria dos consumidores é constituída precisamente por aquelas mesmas pessoas que trabalham como empregados nas empresas produtoras dos bens que consomem.”

“liberdade econômica". Freqüentemente as pessoas se equivocam quanto ao seu significado, supondo que liberdade econômica seja algo inteiramente dissociado de outras liberdades, e que estas outras liberdades - que reputam mais importantes .- possam ser preservadas mesmo na ausência de liberdade econômica. Mas liberdade econômica significa, na verdade, que é dado às pessoas que a possuem o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade. A pessoa tem o direito de escolher sua carreira, tem liberdade para fazer o que quer.”

“Não se dão conta de que, num sistema desprovido de mercado, em que o governo determina tudo, todas essas outras liberdades são ilusórias, ainda que postas em forma de lei e inscritas na constituição.”

“Tomemos como exemplo a liberdade de imprensa. Se for dono de todas as máquinas impressoras, o governo determinará o que deve e o que não deve ser impresso. Nesse caso, a possibilidade de se publicar qualquer tipo de critica às idéias oficiais torna-se praticamente nula. A liberdade de imprensa desaparece.”

“Quando há economia de mercado, o indivíduo tem a liberdade de escolher qualquer carreira que deseje seguir, de escolher seu próprio modo de inserção na sociedade. num sistema socialista é diferente: as carreiras são decididas por decreto do governo. Este pode ordenar às pessoas que não lhe sejam gratas, àquelas cuja presença não lhe pareça conveniente em determinadas regiões, que se mudem para outras regiões e outros lugares”

“A sociedade, quando regida pela economia de mercado, pelas condições da economia livre, apresenta uma situação em que todos prestam serviços aos seus concidadãos e são, em contrapartida, por eles servidos. Acredita-se, que existem na economia de mercado chefões que não dependem da boa vontade e do apoio dos demais cidadãos. Os capitães de indústria, os homens de negócios, os empresários seriam os verdadeiros chefões do sistema econômico. Mas isso é uma Ilusão. Quem manda no sistema econômico são os consumidores. Se estes deixam de prestigiar um ramo de atividades, os empresários deste ramo são compelidos ou a abandonar sua eminente posição no sistema econômico, ou a ajustar suas ações aos desejos e às ordens dos consumidores.”

“O fato é que, no sistema capitalista, os chefes, em última instância, são os consumidores. Não é o Estado, é o povo que é soberano. Prova disto é o fato de que lhe assiste o direito de ser tolo. Este é o privilégio do soberano. Assiste-lhe o direito de cometer erros: ninguém o pode impedir de cometê-los, embora, obviamente, deva pagar por eles”

“Quando afirmamos que o consumidor é supremo ou soberano, não estamos afirmando que está livre de erros, que sempre sabe o que melhor lhe conviria. Muitas vezes os consumidores compram ou consomem artigos que não deviam comprar ou consumir”

“Se dermos ao governo o direito de determinar o que o corpo humano deve consumir, de determinar se alguém deve ou não fumar, deve ou não beber, nada poderemos replicar a quem afirme: "Mais importante ainda que o corpo é a mente, é a alma, e o homem se prejudica muito mais ao ler maus livros, ouvir música ruim e assistir a maus filmes. É pois dever do governo impedir que se cometam esses erros.”

“A partir do momento em que começamos a admitir que é dever do governo controlar o consumo de álcool do cidadão, que podemos responder a quem afirme ser o controle dos livros e das idéias muito mais importante?”

“Liberdade significa realmente liberdade para errar. Isso precisa ser bem compreendido. Podemos ser extremamente críticos com relação ao modo como nossos concidadãos gastam seu dinheiro e vivem sua vida. Podemos considerar o que fazem absolutamente insensato e mau. Numa sociedade livre, todos têm, no entanto, as mais diversas maneiras de manifestar suas opiniões sobre como seus concidadãos deveriam mudar seu modo de vida: eles podem escrever livros; escrever artigos; fazer conferências. Podem até fazer pregações nas esquinas, se quiserem - e faz-se isso, em muitos países. Mas ninguém deve tentar policiar os outros no intuito de impedi-los de fazer determinadas coisas simplesmente porque não se quer que as pessoas tenham a liberdade de fazê-las .”

“É essa a diferença entre escravidão e liberdade. O escravo é obrigado a fazer o que seu superior lhe ordena que faça, enquanto o cidadão livre - e é isso que significa liberdade - tem a possibilidade de escolher seu próprio modo de vida.”

“As famílias consideradas as grandes famílias aristocráticas da Europa permanecem as mesmas até hoje, ou melhor, são formadas hoje pelos descendentes de famílias que constituíam o escol na Europa, há oito, dez ou mais séculos. Os Capetos de Bourbon - que por um longo período dominaram a Argentina - já eram uma casa real desde o século X. Reinavam sobre o território hoje chamado Ile-de-France, ampliando seu reino a cada geração. Mas numa sociedade capitalista há uma continua mobilidade - pobres que enriquecem e descendentes de gente rica que perdem a fortuna e se tornam pobres.”

“O sistema socialista, contudo, proíbe essa liberdade fundamental que é a escolha da própria carreira. Mas condições socialistas há uma única autoridade econômica, e esta detém o poder de determinar todas as questões atinentes à produção.”

“Um dos traços característicos de nossos dias é o uso de muitos nomes para designar uma mesma coisa. Um sinônimo de socialismo e comunismo é

"planejamento". Quando falam de "planejamento", as pessoas se referem, evidentemente, a um planejamento central, o que significa um plano único, feito pelo governo - um plano que impede todo planejamento feito por outra pessoa.”

“Portanto, no sistema socialista, tudo depende da sabedoria, dos talentos e dos dons daqueles que constituem a autoridade suprema. O que o ditador supremo -

ou seu comitê - não sabe, não é levado em conta. Mas o conhecimento acumulado pela humanidade em sua longa história não é algo que uma só pessoa possa deter. Acumulamos, ao longo dos séculos, um volume tão incomensurável de conhecimentos científicos e tecnológicos, que se torna humanamente impossível a um indivíduo o domínio de todo esse cabedal, por extremamente bem-dotado que ele seja.

“Nos Estados Unidos, quase toda semana tem-se noticia de um novo invento, de um aperfeiçoamento. Muitos aperfeiçoamentos foram gerados no mundo empresarial, porque milhares e milhares de industriais estão empenhados, noite e dia, em descobrir algum novo produto que satisfaça o consumidor, ou seja de produção menos dispendiosa, ou seja melhor e menos oneroso que os produtos já existentes. Não é o altruísmo que os move; é seu desejo de ganhar dinheiro.”

“Nos países socialistas, ao invés de ser o vendedor, é o comprador que deve ficar agradecido. Não é o cidadão quem manda; quem manda é o Comitê Central, o Gabinete Central. Estes comitês, os líderes, os ditadores, são supremos; ao povo cabe simplesmente obedecer-lhes.”

“No socialismo, obviamente, o governo é totalitário, nada escapando à sua esfera e sua jurisdição. Mas na economia de mercado, a principal incumbência do governo é proteger o funcionamento harmônico desta economia contra a fraude ou a violência originadas dentro ou fora do pais.”

“Já se disse que, nas condições atuais, não temos mais uma economia de mercado livre. O que temos nas condições presentes é algo a que se dá o nome de "economia mista". E como provas da efetividade dessa nossa "economia mista", apontam-se as muitas empresas de que o governo é proprietário e gestor. A economia é mista, diz-se, porque, em muitos países, determinadas instituições - como as companhias de telefone e telégrafo, as estradas de ferro - são de posse do governo e administradas por ele.”

“Já o governo goza de condições diferentes. Pode ir em frente com um déficit, porque tem o poder de impor tributos à população. E se os contribuintes se dispuserem a pagar impostos mais elevados para permitir ao governo administrar uma empresa deficitária - isto é, administrar com menos eficiência do que o faria uma instituição privada -, ou seja, se o público tolerar esse prejuízo, então obviamente a empresa se manterá em atividade.”

“Nos últimos anos, na maioria dos países, procedeu-se à estatização de um número crescente de instituições e empresas, a tal ponto que os déficits cresceram muito além do montante possível de ser arrecadado dos cidadãos”

“Essa proteção não constitui uma intervenção, pois a única função legitima do governo é, precisamente, produzir segurança.)”

“intervencionismo significa que o governo não somente fracassa em proteger o funcionamento harmonioso da economia de mercado, como também interfere em vários fenômenos de mercado: interfere nos preços, nos padrões salariais, nas taxas de juro e de lucro”

“Se menciono este fato é porque é comum ouvir: "O que é preciso para dar eficácia e eficiência ao controle de preços é apenas maior implacabilidade e maior energia." Ora, Diocleciano foi indubitavelmente implacável, como também o foi a Revolução Francesa. Não obstante, as medidas de controle de preço fracassaram por completo em ambos os casos.”

“interferência do governo no preço do leite redunda, pois, em menor quantidade do produto do que a que havia antes, redução que é concomitante a uma ampliação da demanda. Algumas pessoas dispostas (40) a pagar o preço decretado pelo governo não conseguirão comprar leite. Outro efeito é a precipitação de pessoas ansiosas por chegarem em primeiro lugar às lojas. São obrigadas a esperar do lado de fora. As longas filas diante das lojas parecem sempre um fenômeno corriqueiro numa cidade em que o governo tenha decretado preços máximos para as mercadorias que lhe pareciam importantes.

Foi o que se passou em todos os lugares onde o preço do leite foi controlado.”

“Mas qual é a conseqüência do controle governamental de preços? O governo se frustra. Pretendia aumentar a satisfação dos consumidores de leite, mas na verdade, descontentou-os. Antes de sua interferência, o leite era caro, mas era possível comprá-lo. Agora a quantidade disponível é insuficiente. Com isso, o consumo total se reduz. As crianças passam a tomar menos leite, e chegam a não mais tomá-lo. A medida a que o governo recorre em seguida é o racionamento. Mas racionamento significa tão-somente que algumas pessoas são privilegiadas e conseguem obter leite, enquanto outras ficam sem nenhum.”

“assim o governo, que começara com o controle de alguns poucos fatores, recua cada vez mais em direção à base do processo produtivo, fixando preços máximos para todas as modalidades de bens de produção, incluindo-se aí, evidentemente, o preço da mão-de-obra”

“Ademais, o governo não tem como limitar sua interferência no mercado apenas ao que se lhe afigura como bem de primeira necessidade: leite, manteiga, ovos e carne. Precisa necessariamente incluir os bens de luxo, porquanto, se não limitasse seus preços, o capital e a mão-de-obra abandonariam a produção dos artigos de primeira necessidade e acorreriam à produção dessas mercadorias que o governo reputa supérfluas. Portanto, a interferência isolada no preço de um ou outro bem de consumo sempre gera efeitos - e é fundamental compreendê-lo - ainda menos satisfatórios que as condições que prevaleciam anteriormente: antes da interferência, o leite e os ovos são caros; depois, começam a sumir do mercado.

O governo considerava esses artigos tão importantes que interferiu; queria torná-los mais abundantes, ampliar sua oferta. O resultado foi o contrário: a interferência isolada deu origem a uma situação que - do ponto de vista do governo - é ainda mais indesejável que a anterior, que se pretendia alterar. E o governo acabará por chegar a um ponto em que todos os preços, padrões salariais, taxas de juro, em suma, tudo o que compõe o conjunto do sistema econômico, é determinado por ele. E isso, obviamente, é socialismo.”

“Uma das questões que abordarei mais tarde é a do protecionismo: o governo procura isolar o mercado interno do mercado mundial. Introduz tarifas que elevam o preço interno da mercadoria acima do preço em que é cotada no mercado mundial, o que possibilita aos produtores nacionais a formação de cartéis. Logo em seguida, o mesmo governo investe (48) contra os cartéis, declarando: "Nestas condições, impõe-se uma legislação anticartel”

“É absurdo ver o governo - que gera, por meio do próprio intervencionismo, as condições que possibilitam a emergência de cartéis nacionais - voltar-se contra o meio empresarial, dizendo: "Há cartéis, portanto é necessária a interferência do governo nos negócios." Seria muito mais simples evitar a formação de cartéis sustando a interferência governamental no mercado -

interferência esta que vem a gerar as possibilidades de formação desses cartéis.”

“A idéia da interferência governamental como "solução" para problemas econômicos dá margem, em todos os países, a circunstâncias no mínimo extremamente insatisfatórias e, com freqüência, caóticas. Se não for detida a tempo, o governo acabará por implantar o socialismo.”

“Haveria um remédio contra tudo isso? Eu diria que sim. Há um remédio. E

esse remédio é a força dos cidadãos: cabe-lhes impedir a implantação de um regime tão autoritário que se abrogue uma sabedoria superior à do cidadão comum. Esta é a diferença fundamental entre a liberdade e a servidão.”

“Se a oferta de caviar fosse tão abundante quanto a de batatas, o preço do caviar - isto é, a relação de troca entre caviar e dinheiro, ou entre caviar e outras mercadorias - se alteraria consideravelmente. Nesse caso, seria possível adquiri-lo a um preço muito menor que o exigido hoje. Da mesma maneira, se a quantidade de dinheiro aumenta, o poder de compra da unidade monetária diminui, e a quantidade de bens que pode ser adquirida com uma unidade desse dinheiro também se reduz.”

“Não há nenhuma maneira secreta para a solução dos problemas financeiros de um governo: se este precisa de dinheiro, tem de obtê-lo impondo tributos aos seus cidadãos (ou, em circunstâncias especiais, tomando-o emprestado de pessoas que têm dinheiro). Mas muitos governos, podemos mesmo dizer a maioria deles, julga haver um outro método para obter o dinheiro necessário, qual seja, o de simplesmente imprimi-lo.”

“Por exemplo, o governo poderia, sem fomentar a inflação, usar o dinheiro arrecadado através de impostos para contratar novos funcionários, ou para elevar os salários dos que já estão a seu serviço. Esses funcionários, tendo tido um aumento em seus salários, passam, então, a poder comprar mais. Quando o governo cobra impostos dos cidadãos e aplica essa soma no aumento do salário de seu pessoal, os contribuintes passam a ter menos o que gastar, mas os funcionários públicos passam a ter mais: os preços em geral não subirão.”

“parlamento. Após discutir inúmeros métodos de angariar dinheiro por meio da tributação, finalmente chegaram à conclusão de que talvez o melhor fosse obtê-lo através da inflação.”

“Em última instância, a inflação se encerra com o colapso do meio circulante”


“No entanto, o padrão-ouro tem uma extraordinária virtude: na sua vigência, a quantidade de dinheiro disponível é independente das políticas governamentais e dos partidos políticos. Essa é a sua vantagem. Constitui uma forma de proteção contra governos esbanjadores. Sob o padrão-ouro, se um governo resolve fazer gastos em um novo empreendimento, o ministro das finanças pode perguntar: "E onde vou conseguir o dinheiro? Diga-me, primeiro, onde encontrarei dinheiro para esse gasto adicional." Num sistema inflacionário, nada é mais simples para os políticos que ordenar ao órgão governamental encarregado da impressão do papel-moeda a emissão de quanto dinheiro lhes seja necessário para seus projetos. O padrão-ouro é muito mais propício a um governo financeiramente seguro: seus titulares podem dizer ao povo e aos políticos: "Não podemos fazer tal coisa, salvo se aumentarmos os impostos.”


“Cabe, aqui, a apresentação de alguns fatos: após a Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha restabeleceu a equivalência entre o ouro e a libra, numa correspondência que vigorava antes da guerra. Isto é, elevou o valor da libra.

Com isso, elevou-se o poder de compra dos salários de todos os trabalhadores.”

“O único método que permite a instauração de uma situação de "pleno emprego" é a preservação de um mercado de trabalho livre de empecilhos. Isto se aplica a todo gênero de trabalho e a todo gênero de mercadoria.”

“No entanto, o problema real - como sabem todos aqui presentes - está na acumulação interna de capital. Em todos os países, são extremamente altos os impostos que, hoje, pesam sobre as companhias. Na verdade, elas sofrem uma dupla tributação. Além de haver uma severa taxação sobre seus lucros, há, ainda, outra taxação sobre os dividendos que pagam aos acionistas. E esta tributação é feita de maneira progressiva.

A tributação progressiva da renda e dos lucros tem como resultado o fato de que precisamente aquelas parcelas da renda que se tenderia a poupar e a investir são consumidas no pagamento de tributos. Tomemos o exemplo dos Estados Unidos. Há alguns anos, havia um imposto sobre "excesso de lucros": de cada dólar ganho, a companhia retinha apenas dezoito centavos de dólar.

Quando esses 18 centavos eram pagos aos acionistas, aqueles que possuíam um grande número de ações tinham de pagar, sobre essa cota, como imposto, um percentual de 16, 18 ou até mais. Assim, de um dólar de lucro, os acionistas retinham cerca de sete centavos de dólar, ficando o governo .O restantes. A maior parte desses 93% que, nas mãos do acionista, teria sido economizada e investida, é utilizada pelo governo nas despesas comuns. É esta a política dos Estados Unidos. Espero ter deixado claro que a política dos Estados Unidos não é um exemplo a ser imitado por outros países. Quero apenas ressalvar que um pais rico tem mais condições de suportar más políticas que um pais pobre."

“O resultado final é, certamente, extremamente negativo. Como não podia deixar de ser, decorre de tudo isto uma acentuada perda de confiança: existe hoje, no mundo todo, um crescente descrédito na viabilidade de se investir no exterior. Ainda que os países interessados em conseguir novos capitais se empenhassem em mudar imediatamente suas políticas e fizessem toda a sorte de promessas, é muito duvidoso que pudessem, mais uma vez, estimular os capitalistas estrangeiros a neles investirem.”

“Uma única coisa falta para tornar os paises em desenvolvimento tão prósperos quanto os Estados Unidos: capital. N o entanto, é imprescindível que haja liberdade para empregá-lo sob a disciplina do mercado, não sob a do governo. É preciso que estas nações acumulem capital interno e viabilizem o ingresso do capital estrangeiro.”


“quando as camadas populares se sentem respaldadas por um sistema econômico que propicie a existência de uma unidade monetária estável. Em outras palavras, não se pode admitir nenhuma modalidade de inflação.”


“Por si mesmo, o protecionismo não acrescenta coisa alguma ao capital de um país. Para implantar uma nova fábrica, precisa-se de capital. Para modernizar uma já existente, precisa-se de capital, não de tarifas.”

“Os capitalistas tendem a se deslocar para aqueles países onde a mão-de-obra é abundante e barata. E, pelo próprio fato de introduzirem capital nesses países, provocam uma tendência à elevação dos padrões salariais. (85) Isso funcionou no passado e funcionará no futuro do mesmo modo.”

“Fora dos Estados Unidos - na América Latina e, mais ainda, na Ásia e na África - todos desejam a melhoria das condições do seu país. Um padrão de vida mais alto acarreta, também, padrões superiores de cultura e de civilização.”

“Não há dúvida de que experimentamos, nos séculos XIX e XX, um progresso sem precedentes das condições econômicas, progresso este que tornou possível a uma população muito maior viver num padrão de vida muito superior ao de épocas anteriores”

“Essa independência, no entanto, não existe. O homem não é um ser que tenha, por um lado, uma dimensão econômica e, por outro, uma dimensão política, dissociadas uma da outra. Na verdade, aquilo a que comumente se dá o nome de deterioração da liberdade, do governo constitucional e das instituições representativas, nada mais é que a conseqüência da mudança radical das idéias políticas e econômicas. Os eventos políticos são a conseqüência inevitável da mudança das políticas econômicas.”

“Temos, nos órgãos legislativos, representantes do trigo, da carne, da prata, do petróleo, mas, antes de tudo, de diversos sindicatos. Só uma coisa não está representada no legislativo: a nação como um todo. Apenas vozes isoladas se põem ao lado do conjunto da nação. E todos os problemas, mesmo os de política exterior, são encarados do ponto de vista dos interesses especiais dos grupos de pressão.”

“Que acontecera? Qual teria sido o problema? Qual poderia ter sido a causa de desintegração de um império que, sob todos os aspectos, construíra uma civilização sem outra que se lhe igualasse até o século XVIII? A verdade é que essa civilização foi destruída por algo semelhante, quase idêntico, aos perigos que rondam hoje a nossa civilização: por um lado houve intervencionismo; por outro, inflação. O intervencionismo no Império Romano consistia no fato de que, seguindo o modelo político dos seus predecessores gregos, os romanos impunham o controle dos preços”


“Deste modo, os preços que as autoridades toleravam passaram a estar abaixo do preço potencial a que a inflação elevara as várias mercadorias.

O resultado, obviamente, foi que a oferta de produtos alimentícios nas cidades reduziu-se. As populações urbanas foram obrigadas a retornar ao campo e às atividades agrícolas. Os romanos nunca se deram conta do que estava ocorrendo. Não compreenderam. Não tinham desenvolvido instrumentos mentais que lhes permitissem interpretar os problemas da divisão do trabalho e as conseqüências da inflação no mercado de preços. Tinham, no entanto, clareza suficiente para reconhecer o quanto era nefasta aquela inflação e deterioração da moeda corrente.”

“As idéias intervencionistas, as idéias socialistas, as idéias inflacionistas de nossos dias foram engendradas e formalizadas por escritores e professores. E

são ensinadas nas universidades. Poder-se-ia então observar: "A situação atual é muito pior.'' Eu respondo: "Não, não é pior." É melhor, na minha opinião, porque idéias podem ser derrotadas por outras idéias. Ninguém duvidava, na época dos imperadores romanos, de que a determinação de preços máximos era uma boa política, e de que assistia ao governo o direito de adotá-la. Ninguém discutia isso.”

“Todas essas idéias nefastas que hoje nos afligem, que tornaram nossas políticas tão nocivas, foram elaboradas por técnicos do meio acadêmico”

“Devemos ser muito cuidadosos no uso desse termo, porque essa revolta não foi feita pelas massas: foi feita pelos intelectuais, que, não sendo homens do povo, elaboraram doutrinas. Segundo a doutrina marxista, só os proletários têm boas idéias, e a mente proletária, sozinha, engendrou o socialismo. Todos esses autores socialistas, sem exceção, eram "burgueses", no sentido em que eles próprios, socialistas, usam o termo.”

“Idéias, e somente idéias, podem iluminar a escuridão. As boas idéias devem ser levadas às pessoas de tal modo que elas se convençam de que essas idéias são as corretas, e saibam quais são as errôneas. No glorioso período do século XIX, as notáveis realizações do capitalismo foram fruto das idéias dos economistas clássicos, de Adam Smith e David Ricardo, de Bastiat e outros.”

“Estou muito agradecido a este Centro pela oportunidade de me dirigir a tão distinta platéia e espero que, dentro de alguns anos, o número dos defensores das idéias em prol da liberdade tenha crescido consideravelmente, neste e em outros países. Quanto a mim, tenho plena confiança no futuro da liberdade, tanto política quanto econômica. ”

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

TRECHOS E FRAGMENTOS DO GUIA DO POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA

                             


“Dizem eles que tudo isso é “culpa” do machismo, do capitalismo, do cristianismo, dos marcianos. Outra coisa que o politicamente correto detesta é a própria noção de aristocracia (que a filosofia, já em Platão, separou da noção de “aristocracia de sangue” para defini-la como “o governo dos mais virtuosos”), porque ela afirma que uns poucos são melhores do que a maioria dos homens. A sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas.”

“Mas, pelo fato de ter sido um fenômeno que entrou para a agenda da nova esquerda americana, a necessidade de melhores maneiras no convívio com os negros acabou por se transformar num “programa político de criação de uma nova consciência social” – mantras como esse me dão alergia. A diferença entre a velha esquerda e a nova esquerda é que, para a velha, a classe que salvaria o mundo seria o proletariado (os pobres), enquanto, para a nova, é todo tipo de grupos de “excluídos”: mulheres, negros, gays, aborígines, índios, marcianos... E também outra diferença é o caráter revisionista. Isto é, nada de revolução violenta, nada de destruição do capitalismo, mas sim de acomodação do status quo econômico às demandas de inclusão dos grupos de excluídos” 

“Daí foi um salto para virar ações afirmativas, isto é, leis e políticas públicas que gerassem a realização do processo (cotas de negros, gays, índios nas universidades e nas empresas, por exemplo). Associado a isso, a universidade começou a produzir (sendo a universidade sempre de esquerda) teorias sobre como a ideologia (estamos falando de descendentes diretos de Marx) de ricos, brancos, homens heterossexuais, ocidentais, cristãos criaram mentiras para colocar as vítimas (os grupos de excluídos citados acima) como sendo menos inteligentes, capazes, honestos etc. O próximo passo foi a criação de departamentos nas universidades dedicados à crítica da ideologia dos “poderosos”.”


“O problema com o politicamente correto é que ele acabou por criar uma agenda de mentiras intelectuais (filosóficas, históricas, psicológicas, antropológicas etc.) a serviço do “bem”, gerando censura e perseguições nas universidades e na mídia para aqueles que ousam pôr em dúvida suas mentiras “do bem”. Grande parte do espírito que move este livro é criticar algumas dessas mentiras ou colocá-las sob o olhar da filosofia e de alguns filósofos.”

“Movidos pela ideia rousseauniana de que o mais fraco politicamente é por definição melhor moralmente, o exército do politicamente correto se transformou numa grande horda de violência na esfera intelectual nas últimas décadas, criando uma verdadeira “cosmologia” politicamente correta – por exemplo, dizendo que Deus é na verdade uma Deusa – a serviço da transformação do mundo no mundo que eles têm na cabeça, muitas vezes inviabilizando qualquer possibilidade de pensar diferente.”

“O politicamente correto hoje é muito amplo como fenômeno, mas sempre é autoritário na sua essência, porque supõe estar salvando o mundo”

“Desculpar a falta de força de caráter da maioria se transformou em fato comum numa certa filosofia “revolucionária” depois da “politização” da ética na esteira de Rousseau e Marx – ou da ideologização de tudo, como quando se culpa o capitalismo por tudo de mau no mundo. Basicamente, o mundo sempre foi mau e continuará a ser, porque ele é fruto do comportamento humano, que parece ter certos pressupostos naturais.”

“Rand acerta em cheio quando mostra uma sociedade que só fala no “bem comum” e na “igualdade entre as pessoas” contra as diferenças naturais de virtudes entre elas, estas a serviço do mau-caratismo, da preguiça e da nulidade. Ao buscar destruir as “injustiças sociais”, o mundo descrito por Rand destrói a produtividade, fonte de toda a vida, paralisando o mundo.”

“Isso mesmo: força e coragem fazem as pessoas verdadeiras nas suas relações, enquanto a ausência de virtudes como essas as faz mentirosas e traiçoeiras. A distopia descrita por Rand é a melhor imagem do mundo dominado pelo politicamente correto: inveja, preguiça, mentira, pobreza, destruição do pensamento, tudo regado pelo falso amor pela humanidade. Atlas aqui representa todos os homens e mulheres que carregam e sempre carregaram o mundo nas costas e que nos últimos 200 anos passaram a ser objeto de crítica pela esquerda rousseauniana. Alguns trechos do livro poderão fazer você ter náuseas se for uma pessoa que sofre na pele a mentira dos preguiçosos amantes da igualdade. Rand afirma que a maior parte da humanidade sempre viveu às custas de uma minoria mais capaz e mais inteligente”

“O povo é sempre opressor. Quando aparece politicamente, é para quebrar coisas. O povo adere fácil e descaradamente (como aderiu nos séculos 19 e 20) a toda forma de totalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um leão à mesa. Só mentirosos e ignorantes têm orgasmos políticos com o “povo”.”

“O politicamente correto é um caso clássico de censura à liberdade de pensamento, por isso, sob ele, o pensamento público fica pobre e repetitivo, por isso medíocre e covarde. Quando se acentua a igualdade na democracia, amplia-se a mediocridade, porque os covardes temem a liberdade”

“como se a autonomia fosse uma espécie de bolsa-família para toda a população. O indivíduo verdadeiro sofre a perseguição mais descarada, porque ele sim vive a dureza de ter uma personalidade ativa e por isso mesmo acaba sendo um cético com relação às promessas de autonomia para as massas. No fundo, o indivíduo fracassado e o homem-massa invejam a liberdade do indivíduo verdadeiro porque ela lhes parece um luxo. Na realidade são primitivos demais para entender a maldição que é ser indivíduo e a dor que é ser livre sem pertença a bandos.”

“Evidente que conviver com o diferente é essencial numa sociedade como a nossa, assolada pelos movimentos geográficos humanos, mas daí a dizer que todo outro é lindo é falso e, como sempre acontece com o politicamente correto, desvaloriza o próprio drama da convivência com o outro.”

“Se pensarmos no que diz Edmund Burke (século 18) sobre preconceitos, veremos que esses são mecanismos espontâneos de reação moral. Nesse sentido é muito difícil vencer preconceitos. Principalmente quando se trata de pessoas que creem que sua religião deve reger o mundo e que quem não crer nela é infiel e deve morrer.”

“Cenas como as que mostram conversas com árvores, bestas-feras que se unem aos bons índios azuis contra os capitalistas malvados ou os índios azuis de mãos dadas cantando sons mágicos ao redor de árvores emocionaram milhares de idiotas pelo mundo. Todo mundo sabe que quase ninguém está disposto a viver como os índios, mas é comum gente boba achá-los “superavançados” com suas técnicas médicas do Neolítico. Abraçar árvores não resolve nada, muito menos supor que poderíamos voltar a viver em sociedades pré-escrita ou pré-roda. A menos que mais da metade da população mundial morresse, esses delírios não servem para nada.”

“O que se revela aqui é o eterno caráter retardado mental (quando não mau caráter apenas) que o politicamente correto aplica a este tema da natureza e dos animais: a crueldade é parte dos esquemas de sobrevivência dos seres vivos, e não adianta projetarmos uma visão de pureza moral de nós mesmos, porque o mundo pararia de existir. O que suspeito fortemente é de que esses caras apenas desejam passar a imagem de bonzinhos porque não gostam de comer carne.”

“Salta aos olhos que muita gente se faz de bonzinho em cima do discurso politicamente correto tipo “save the whales”. Parece-me difícil sobreviver se quisermos salvar tudo o que vive sobre o planeta. E o que mais espanta é que justamente a tal da natureza é a primeira a ser cruel, e eles parecem que não veem. Basta ver o canal Discovery para perceber que não existe a natureza politicamente correta, ela é o oposto dessa praga.”

“O grande problema da fêmea da espécie humana já há mais de dezenas de milhares de anos é como sobreviver à gravidez e à lida com a prole. Passar sozinha por ambas as coisas sempre foi má ideia, tanto fisiológica quanto psicologicamente. A gravidez é cara fisiologicamente para a fêmea (logo, o sexo também), e não para o macho. Tirar o macho do exílio meramente animal para a humanização (fazê-lo “amar”, e não apenas “transar”) foi um enorme ganho adaptativo da espécie. Mas machos frouxos e pobres não servem para keepers. Logo, “mulher gosta de dinheiro”.”

“O politicamente correto parece ser anticientífico. Mas, mais do que isso, ele faz mal para homens e mulheres porque atrapalha milhares de anos de seleção natural de comportamentos nos quais homens e mulheres se reconhecem. A pressão pela “crítica ao macho” contamina as relações porque, apesar de se falar muito hoje em dia sobre homens serem mais sensíveis do que outrora, as mulheres (que não suportam fracos) só aguentam a sensibilidade masculina até a página três. Passou daí, elas se enchem. A superação da praga do politicamente correto é necessária em todos os campos do pensamento”

“Para terminar, um detalhe. Lembraria à leitora que não adianta ficar nervosa porque os homens não erotizam a inteligência das mulheres, enquanto as mulheres erotizam a inteligência dos homens. Fácil de entender: inteligência no homem é como dinheiro, uma forma de potência”


“A afirmação chega a ser risível – com o tempo passei a suspeitar de que, sim, há uma pitada de mau-caratismo no feminismo e provavelmente porque suas líderes são, em grande maioria, feias e mal-amadas e por isso querem um mundo feio e infeliz para se sentir mais em casa.”

“Não apenas as universidades, mas também a mídia é povoada por pessoas que afirmam o que a maioria quer ouvir, porque isso garante adesões e reduz riscos de confronto. O politicamente correto é um caso típico de opção, por gerar adesões a um discurso autoritário. Basta analisarmos grande parte do que se fala na academia e na mídia para perceber o quanto se repete o mesmo papinho “do bem” que está longe de descrever a realidade, quase sempre intratável ao “Bem”.”

“As ciências duras ainda podem entregar remédios e robots, as ciências humanas não têm nada para entregar. Quando algo de importante nelas acontece, é à revelia das instituições que as sediam. Todos estão quase sempre ocupados com seus miseráveis salários, mas dizem que não. O cotidiano é, assim, corroído pelo esforço do autoengano e da hipocrisia.”

“Se você bate foto dentro do avião, é porque não há esperanças para você. Ficar feliz por sair de férias de avião é brega. Um conselho: se você tem mais de 20 anos e acha avião chique, finja que não acha. Sinto dizer, o mundo acabou. Fique em casa.”

“O escritor americano Philip Roth, em seu livro O Animal Agonizante, afirma que infelizmente a emancipação feminina não foi usada pelos homens naquilo que ela seria uma vantagem para eles: a libertação masculina com relação à histeria da mulher que deixa os homens (os melhores, porque se preocupam em satisfazer e cuidar de suas mulheres e famílias) em apuros, porque, como todo homem sabe, a mulher nunca está satisfeita. E, se você se preocupa em deixá-la satisfeita, você vive uma batalha sem fim, que ela mesma não reconhece como existente. Faz parte da histeria não ter consciência de si mesma.”

“a praga PC ainda insiste em dizer que a farsa de Rousseau, o tipo de pessoa que ama a humanidade, mas detesta seu semelhante, é verdade. O fato é que todo mundo gosta de ouvir que é bom e que os outros é que o fazem ser mau e infeliz.”

“O importante é que o leitor perceba que a autoajuda e a autoestima se encontram com o politicamente correto na medida em que ele é incapaz de dizer qualquer coisa que não seja afirmar a “beleza moral do homem”, prejudicada apenas pela maldade de alguns poucos. Seu jogo é alimentar o orgulho humano, portanto, na verdade, ele é um tipo banal do velho pecado humano da vaidade. Mas numa versão baratíssima e miserável sem o drama trágico de um pecador como Raskolnikov de Crime e Castigo, de Dostoiévski, ou de um Adão do Paraíso Perdido, de John Milton. Dizer coisas como todo índio é legal, pobre é sempre gente boa, gay é sempre honesto, “eu não gosto de dinheiro”, quando na realidade todo mundo tem sua dose de miséria, além de vaidade barata, simplifica (como sempre, o pior efeito da praga PC é a burrice que ela cultiva) a natureza humana, nos impedindo de pensar em nós mesmos de modo adulto. Ideias como as de Pico e Rousseau servem para nos deixar infantis, e só gente infantil acredita na felicidade. Fingindo ser contra o mundo do mercado e do dinheiro, o politicamente correto é um dos seus produtos mais[…]”

“Dizer coisas como todo índio é legal, pobre é sempre gente boa, gay é sempre honesto, “eu não gosto de dinheiro”, quando na realidade todo mundo tem sua dose de miséria, além de vaidade barata, simplifica (como sempre, o pior efeito da praga PC é a burrice que ela cultiva) a natureza humana, nos impedindo de pensar em nós mesmos de modo adulto. Ideias como as de Pico e Rousseau servem para nos deixar infantis, e só gente infantil acredita na felicidade. Fingindo ser contra o mundo do mercado e do dinheiro, o politicamente correto é um dos seus produtos mais vagabundos em termos de qualidade. Entre a felicidade e a autoestima, prefiro o pecado.”

“porque a crítica ao politicamente correto é no fundo uma crítica filosófica, a partir da tradição que em filosofia se conhece como “moralistas franceses”, à tentativa de negarmos os demônios da alma humana. Sim, quando você, caro leitor, se vê diante do espelho, vê facilmente o rosto da inveja, do orgulho e da mentira com seu nome próprio.”


“O novo hipócrita social pensa que não esconde nenhum monstro dentro de si. Quando um idiota politicamente correto fala de si mesmo, pensa em si mesmo como um anjo que, por conta do domínio dos malvados (os “outros” que são os cruéis dominadores do mundo), não consegue viver o bem que ele carrega dentro de si. Esse idiota usa a política como modo de esconder o mal em si mesmo. A defesa que o mentiroso PC faz da humanidade é na realidade uma defesa de si mesmo. Ao fazer isso, ele nega ao homem a possibilidade de entrar em contato com seus próprios demônios e assim o torna um enganador de si mesmo, um retardado moral e um canalha que não se reconhece canalha e, por isso, não tem nem mesmo a dignidade de se saber mal, à semelhança de figuras trágicas como Lúcifer.”

“Como sempre, no politicamente correto, a teologia da libertação faz do homem um mentiroso sobre si mesmo ou um “retardado moral”. Ao retirar a contradição moral de “dentro” do homem e colocá-la na política, “fora dele”, como fazem os herdeiros de Rousseau, a praga PC e a teologia da libertação roubam do homem a possibilidade de angústia moral verdadeira, dizendo para ele que a culpa é dos ricos, e com isso elas apagam toda a tradição cristã de reflexão espiritual e moral centrada na consciência de culpa moral. Como dizia Heine, mais uma vez, só se traído pelos seus. Ninguém precisa de Nietzsche para matar Deus, basta chamar um teólogo da libertação.”

“só fanático podia imaginar uma sociedade com “justiça social”, porque produzir riqueza tem a ver com originalidade, inteligência, capacidade de disciplina, e nada disso tem a ver com “igualdade”. A natureza não é igualitária em seus dons e suas dádivas, tampouco em suas misérias: poucos são sempre melhores do que a maioria. Isso não significa que devemos cultuar “injustiças sociais”, mas sim que o melhor remédio para “injustiça social” é riqueza e abundância, e não pregadores fanáticos pela justiça social”

“Lembremos sempre a distopia de Aldous Huxley, o Admirável Mundo Novo: um mundo de gente feliz, sem liberdade (porque esta é essencialmente indiferente à igualdade), no qual a humanidade se perdeu dentro do projeto de higiene do sofrimento. Sociedades “justas” podem produzir grande mediocridade intelectual, como a nossa época, dadas as bobagens das redes sociais e as obsessões da saúde (fetiches “espirituais” da classe média). Muito do que o espírito humano produziu ele o fez em meio ao sofrimento. Isso não justifica o sofrimento, apenas indica que uma cultura da felicidade e da justiça social pode apenas gerar gente banal e medíocre”

“parte das pessoas que colaborava com o regime nazista o fez porque queria “ter melhor qualidade de vida” durante aqueles anos negros. Com isso não quero diminuir a covardia moral, quero apenas apontar a falsidade moral daqueles que hoje negam que seriam colaboradores. Agem como muita gente agiu quando queimou e humilhou em praça pública mulheres que foram amantes de alemães durante a ocupação. Enquanto os alemães ali estavam, buscaram a ajuda dessas mulheres e, ao fim, se fizeram de grandes justiceiros.
Se acontecer algo semelhante hoje, ocorrerá a mesma coisa. Somos basicamente covardes porque a vida é basicamente infeliz.”

“UMA PERGUNTA APENAS

Este assunto me interessa pouco, por isso vou falar pouco dele. Minha intenção aqui é simplesmente fazer uma pergunta: se a ditadura brasileira matou tanta gente da esquerda, por que, ao terminar a ditadura, a cultura como um todo (professores, mídia, literatura, filosofia, ciências humanas, artes, os principais partidos políticos) se revelou completamente de esquerda?
Independentemente do fato de que ditaduras são horríveis, a brasileira não liquidou a esquerda como se fala por aí. E mesmo os tais guerrilheiros lutavam por uma outra forma de ditadura. Tivesse a guerrilha de esquerda vencido a batalha, nós acordaríamos numa grande Cuba. A ditadura, de certa forma, nos salvou do pior.”

“A canalhice sempre pagou bem nesse mundo, e o politicamente correto é uma das novas formas de canalhice que assolam o mundo da cultura, da academia e da mídia.”

“Mas lamento profundamente o que se passou com a Bahia a partir dos anos 80: a música brega do povo tomou conta da cultura de Salvador, e, se você não gosta da “cultura afro” ou de “axé”, é necessariamente um racista, o que não é verdade. Eu posso não gostar de música viking ou coreana e nem por isso sou racista. A condenação imediata da crítica à africanização compulsória da cultura baiana é exemplo claro do autoritarismo do politicamente correto.”

“E pior: os espaços culturais em Salvador cada vez mais são infectados por esse fundamentalismo afro, destruindo toda a diferença cultural na Bahia em nome de um grupo majoritário que se aproveita do discurso “democrático”.”

“A ideia de que qualquer coisa que venha do povo é boa é absurda. Além do mais, a maior parte do povo é idiota porque a maioria é sempre idiota e infantil. Associa-se a esse fato geral uma outra marca mais específica desse caso, que é a questão dos negros e da indústria das vítimas sociais e históricas como entidades sagradas da verdade moral.”

“Ninguém põe em dúvida a escravidão e o preconceito racial nem o dever de acabar com eles. Mas dizer que, por isso, “tudo que é africano é lindo” ou que “todo negro é maravilhoso”, típico do politicamente correto, é um crime intelectual e afetivo.”

“O fato é que, além da devastação causada pela alegria histérica do axé baiano, vive-se numa constante escravidão a serviço do fundamentalismo afro. A Bahia é, nesse caso, um exemplo claro de vítima social e histórica da praga PC.”

“O welfare state nega o fato de que poucos são mais capazes, mais inteligentes, mais esforçados e mais disciplinados e que por isso devem gozar dos resultados das suas virtudes. Dizer isso é politicamente incorreto, mas é verdade. A praga PC (e seu parceiro, o Estado de bem-estar social europeu, responsável em grande parte pela derrocada da Europa nos últimos meses) estimula o vício e pune a virtude por não a reconhecer e por fazer com que ela pague a conta dos vagabundos”
“defendem a condição de mãe solteira como ganho da emancipação feminina. Todo mundo sabe que criança sem pai é estatisticamente mais permeável à disfunção social (mãe solteira só é bonito na novela das oito). A destruição ideológica das famílias em nome da emancipação feminina e dos filhos (o que as feministas chamam de “fim da família patriarcal”), a falta de emprego, o direito à preguiça universal e o culto da irresponsabilidade como forma de liberdade dos jovens têm criado um cenário de desespero no Reino Unido. Tudo isso com as bênçãos do politicamente correto declinado em inglês.
Esse caso revela a profunda relação entre a praga PC e o mau-caratismo.”

“O POLITICAMENTE CORRETO É UMA FORMA DE SER MAU-CARÁTER

Aqui encerro o relato do meu pecado. A praga PC deve ser combatida não porque seja bonito dizer piadas racistas (não é), mas porque ela é um instrumento de (maus) profissionais da cultura, normalmente gente mau-caráter, fraca intelectualmente, pobre e oportunista, para aniquilar o livre “comércio de ideias” ao seu redor, controlando as instâncias de razão pública, como universidades, escolas, jornais, revistas, rádio, TV e tribunais. Nascida da esquerda americana, ela é pior do que a esquerda clássica, porque essa pelo menos não era covarde. A praga PC usa métodos de coerção institucional e de assédio moral, visando calar todo mundo que discorda dela, antes de tudo, tentando fazer dessas pessoas monstros e, por fim, tentando inviabilizar o comércio livre de ideias. Ideias não são sempre coisas “boas”. Às vezes doem.”

“Ao final, a praga PC é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência. O que ela mais teme é a coragem. Por isso, diz que o povo é lindo quando não é, diz que as mulheres estão bem sozinhas, quando não estão (estavam mal acompanhadas e agora estão pior sozinhas, porque a humanidade é basicamente infeliz e incoerente com relação aos desejos e às expectativas), diz que a natureza é uma mãe quando ela é mais Medeia, nos proíbe de reclamar de gente brega ao nosso redor, mente sobre aqueles que lutaram contra a ditadura (eles não eram muito melhores do que os torturadores se tivessem a chance de torturar alguém), nega a importância da culpa porque é mau-caráter, enfim, não é capaz de reconhecer valor em nada porque nega a própria capacidade humana de fazer discernimento.
A praga PC é apenas mais uma face da velha ignorância humana.”